Diferente

Era segunda-feira, dia de retornar para a lida. Mas achou até bom quando entrou no ônibus e reclinou o banco, seriam 55 minutos a mais de sono que no fim de semana não fora possível.

Ao entrar no escritório, pilhas de documentos a esperavam para revisar, carimbar, colher a assinatura do gerente e despachar... Coisa pouca, pensou, difícil mesmo era a pilha de pratos e as demais louças que lavou no sábado e domingo.

Mal acabara de se lembrar da cozinha de casa, Sr. Lauriano a chamou pelo ramal em viva-voz:

- Um café e a pasta da Sandoval...

A voz dele parecia impaciente, mas ainda assim era mais amena que a do marido gritando com as crianças e arguindo-lhe o horário da "janta".

Na volta da sala do chefe, encontrou Luzia e Mafalda no corredor. As duas pareciam macacas de auditório, tamanha a euforia.

- Menina, você não foi ao show do ano!!! Ah perdeu, queridinha! Ele jogou beijos para mim...

Olhou a cena e fingiu sentir entusiasmo, mas no fundo desejou dizer: - "Ai que saco!"

Eram tão infantis e já contavam mais de 50 anos... Mas lembrou das farras das crianças, brinquedos esparramados , algazarra e correria por toda a casa... Melhor ouvir as amigas que os gritos dos pirralhas.

Ao longo do dia mal comparou os eventos nos ambientes tão distintos. Era uma mania que ela tinha.

No final do expediente, bateu o cartão e saiu pela portaria que tinha próximo ao comércio, precisava levar umas coisas para casa. Entrou na loja de biscoitos e pediu o preferido do Carlinhos. Comprou também as balas da Rebeca e um bolo confeitado para o Juninho. Ele sempre aguardava no portão, com aquela carinha pidona, vinha com o mesmo bordão:

- Mãeee, trouxe o meu pião? E o bolo de brigadeiro?

Não fazia mal levar o pião hoje, afinal ele era sempre tão bonzinho... Comprou o brinquedo.

Lembrou de Maria Lúcia, contando-lhe uns segredos, quem sabe ousava e também não experimentava? Deu certo para Maria Lúcia, decerto seria uma noite diferente... Riu-se e voltou para a avenida, fez sinal para o taxista. Sacolas no porta-malas, seguiu ansiosa para casa. Foi pensando no trajeto, de como era bom viver com seus afetos.

O trânsito estava terrível. Passou um transeunte e gritou: - Fecharam a ponte!!!

Quando acontecia de fecharem a ponte era um tempo enorme de espera. Da última vez deu até para cochilar. Foi ficando aflita, sentiu saudades das crianças, da sua cozinha, do marido. Queria logo chegar em casa e sentir o gosto da rotina. Era um tanto agitado, muita bagunça, mas era a sua gente!

No dia seguinte viu tudo, um pouco diferente...

Cláudia Machado

18/5/18

Cláudia Machado
Enviado por Cláudia Machado em 18/05/2018
Reeditado em 20/05/2018
Código do texto: T6339938
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