O APAGÃO

A queda de energia é bem comum em cidades do interior, principalmente nas menores. Lembro que na minha infância, quando faltava luz era uma alegria só, já tínhamos o protocolo a seguir nessas ocasiões: todas as crianças da rua logo corriam para um prédio da igreja que era o ponto de encontro, se fazia uma grande ciranda e era só alegria. Os adultos ficavam na calçada com suas velas, lanternas e faróis ligados, enquanto as crianças só precisavam da luz da lua – coincidentemente, sempre era noite de lua – para clareá-las enquanto a energia não voltava.

Ontem aconteceu um episódio desses na minha cidade. Não haviam mais crianças brincando na minha rua, - uma boa reflexão que também pode ser feita - mas felizmente não se perdeu o encanto que apagões causam no interior.

Lembrei do verso de um poema que eu mesma escrevi no último apagão que tinha acontecido: “o apagão acendeu o céu”, só que dessa vez o apagão foi muito mais significativo pra mim, pois ele não somente acendeu o céu; ele proporcionou encontros e convivências sinceras entre pessoas.

O apagão acendeu o céu de tal forma que parecia um show de astros no céu. Foi uma linda noite de lua crescente, havia um pequeno halo na lua que a tornou mais especial ainda. Pude identificar a constelação de escorpião facilmente, antes do céu ficar nublado. Vi uma estrela cadente e também dois aviões a sobrevoar. Que noite!

Mas como havia falado, acender o céu não foi a coisa mais extraordinária da noite, mas sim a convivência. A falta de TV e Internet acenderam a comunicação. Quem diria? A comunicação sendo feita pela ausência dos meios de comunicação.

Na hora que começou o apagão eu não estava em casa, mas logo que cheguei avistei todo mundo na calçada batendo papo, como nos velhos tempos. Depois jantamos todos à luz de velas, uma diversão!

Quando acabei de jantar, passei horas no quintal com minha sobrinha ouvindo música com o restante da bateria que sobrou do celular. Observamos o céu, falamos de astros, de sonhos, de vida. Fiquei impressionada o quão inteligente pode ser uma menina de 10 anos. Ganhei a noite!

Não senti falta da energia, da internet, da TV e nem de nada. Foi um escape pra mim e acredito que pra muita gente também. Foi uma oportunidade de sair do quarto e entrar na vida.

Espero que não precisemos mais de apagões pra viver noites assim. Que vivamos apagões à luz de postes também.

Aline Nobre
Enviado por Aline Nobre em 19/05/2018
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