OS PAIS DOS NOSSOS PAIS

ALZHEIMER

A mãe de um amigo meu está com Alzheimer.

São coisas que a vida apronta com a gente.

Pode-se afirmar que seja uma doença moderna, pois aparece na maioria das vezes em longevos.

Vivemos mais e damos um trabalho danado para os cientistas.

Há pouco tempo éramos velhos aos quarenta. Hoje somos guris aos cinquenta. É uma mudança radical.

Dá para inferir que o corpo humano não aguenta tanto tempo sem dar algum piripaque. Não é uma regra, mas acontece muito. E, a gente espera que aconteça só com o vizinho. Quando bate na nossa porta o bicho pega.

Mais comum do que se pensa, os filhos não concorrem para ver quem cuida do doente. Alguns abrem mão da tarefa alegando razões várias. Sobra para poucos a na maioria das vezes sobra para um só. É uma tarefa árdua. É uma missão de vida.

Para o longevo, muda pouco, pois, com o passar do tempo perde a noção da sua real condição.

É uma luta constante e o cuidado é redobrado. As coisas complicam quando, junto com esta demência, vêm acompanhadas outras patologias. A violência física é um dos grandes temores. Urge que num leve sinal de descontrole, a terapia e a medicação se faça presente. Não é fácil. Aqueles que vivem o caso têm a realidade à mostra.

Os dias, meses, anos passam e a estafa toma conta do cuidador, que na maioria das vezes é um filho ou filha. A doença não abarca a reversão e sim a piora constante.

Fica o dilema de, até quando deixar o agora paciente sob os cuidados dos filhos. É uma das decisões mais difíceis na vida da família.

Às vezes, em função do cansaço, vêm à baila as lembranças de antanho num repique de mágoas e coisas mal resolvidas. São rancores fermentados no caldeirão da doença.

Às vezes, desejos silenciosos de que se abrevie a jornada do doente são pensamentos humanos e naturais. Como julgar? Já assisti e ouvi muito isso.

Mas, na maioria das vezes, vi a dedicação integral de um filho nessa situação.

São igualmente pais de seus pais.

Todos o são, mesmo os que optam por colocar em clínicas especializadas para o conforto e a melhora na qualidade de “vida” dos seus agora “filhos”.

O dia de amanhã não sabemos e podemos, por uma manobra do destino, nos tornar filhos de nossos filhos por causa do Alzheimer. Como saber?

Oremos para que o mesmo desvelo que proporcionamos a eles nos retorne em forma de bons cuidados.

Não saberemos.

Por enquanto, somos (ou seremos)os pais dos nossos pais.

Com muita honra.

Clos