MORTE E FLORES NO DIA DAS MÃES

MORTE E FLORES NO DIA DAS MÃES

O momento atual da violência no Brasil está a nos ensejar reflexões sobre a mudança da concepção dos valores vigentes em nosso país. Aprendemos por meio da educação passada pelos pais, e até pelo ensino religioso, a importância do respeito dado à vida nossa e à do próximo. Em conseqüência, a valorização e a celebração do nascimento de um ser com todas as implicações: a emoção dos pais, dos familiares e dos amigos com a chegada do novo ser humano. O regozijo máximo! As coisas, no entanto, mudaram de enfoque e, hoje, estarrecidos, estamos a ver a ODE ÉPICA feita recentemente pela morte daquele ladrão na porta de uma escola em São Paulo, justamente na véspera do dia das mães.Tal acontecimento nos colocaram diante de uma dicotomia incrivelmente contrastante e perturbadora. Uma mãe em defesa sua e da coletividade, a caracterizar legitima defesa, prostrou por terra um marginal de vinte anos; como todo ser animal da espécie humana, também, ele, possuía mãe... E num domingo no qual se reverenciava o dia dedicado àquela que, bafejada por Deus, gera vidas nos vimos diante de um terrível paradoxo. Uma mãe a receber, emocionada, honraria pelo ato heróico de ter tirado uma vida; e outra, do lado oposto, a chorar copiosamente pela perda de uma vida - a vida de um filho marginal. Duas mulheres, duas mães, em situação dramática de protagonismo e antagonismo proporcionada por um momento social de violência, germinada e permitida ao longo dos anos por ausência de política/educativa/psicológica e sócio-econômica. Essa ausência de política pública impossibilitou a que gente de vários matizes sociais se imbuíssem de educação e saúde de qualidade suficientes para evitar, hoje, um país inteiro se alegrar, a saltitar em transe orgásmico por assistir em tempo real à morte de um ser humano. Embora, ladrão, assaltante, com extensa ficha de delitos, recordemos...A protagonista, uma mulher policial, também geradora de vidas, a receber encômios e flores das mãos do governador daquele estado pelo ato heróico praticado....O fato, independente da premência e relevância, moralmente necessário, aceito por toda uma sociedade, nos leva a essas reflexões pelas alternativas de valores adversos envolvidos...Algo precisa ser feito, urgentemente, para mudarmos essa inversão dos valores que a sociedade de violência alcançou e nos legou. Queremos de volta a alegria primaveril da chegada de uma vida e nunca, jamais, o alarido festivo e crepuscular, comemorativo pela perda dela, pois esta não foi feita para ser comemorada, depois de ceifada! Sinal dos tempos... Oportuno lembrar a frase, correlata ao ocorrido do tribuno romano, Cícero, que tornou-se famosa pelo reconhecimento da gradação e degradação de uma época, e de uma atualidade espantosa: “Ó TÊMPORA, Ó MORES”: (Ó tempos, ó costumes)

ANTONIO FRANÇA

Data: 19/05/2018.

ANTONIO FRANÇA
Enviado por ANTONIO FRANÇA em 21/05/2018
Reeditado em 03/10/2021
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