EFICIÊNCIA E EFICÁCIA

Álvaro Quaglia era um dos mais divertidos consultores da Multimercado Consultores Associados, empresa que tive prazer e orgulho de presidir e conduzir de 1998 a 2002, em Brasília, contando com prestigiados parceiros egressos de diretorias do Banco Central e do BNDES. Alvinho, como era chamado, cuidava do segmento que envolvia gestão de recursos humanos. Nos projetos que visassem à reestruturação empresarial para a recuperação ou obtenção de melhores resultados, costumava proferir palestras sobre “eficiência e eficácia” dos recursos humanos.

A título de hilária motivação introdutória, Alvinho começava falando sobre o Viagra, na época novidade que permeava nove entre dez conversas masculinas. Contava ele que muitos cidadãos, já ultrapassando a terceira idade, experimentavam o Viagra, como curiosidade. Percebiam o efeito, porém não mais se lembravam de como operar o resultado, nem o significado do benefício alcançado. Tanto, que alguns médicos já estavam receitando a esses pacientes o Memoriol como complemento funcional.

Assim era colocado, preliminarmente, um exemplo de eficiência sem a correspondente eficácia. O remédio funcionava, era eficiente. Atuava perfeitamente no agente, mas este era incompetente para produzir o efeito projetado. Tornava-se, portanto, ineficaz.

Nos sistemas administrativos bem montados e de funcionamento ideal é esperado que o grau de eficiência seja elevado e corresponda integralmente ao grau de eficácia.

As administrações públicas, emprenhadas de burocracia e entulhada de apaniguados políticos incompetentes e desmotivados ao trabalho, refletem exatamente o inverso. São infelizes exemplos de sistema de baixas eficiência e eficácia. Principalmente quando se tratam de prefeituras municipais.

Na administração pública, quando entregue a gestores de baixa formação profissional e obsessiva valorização da subserviência política, franqueiam-se a ociosidade e as benesses, desde que vigore a fidelidade. Quando muito, algumas máquinas públicas conseguem demonstrar certo diferencial positivo no grau de eficiência, mas sempre com inconcebível baixo nível de eficácia.

Se uma prefeitura municipal - qualquer uma, tomada ao acaso -demonstrasse, por seu balanço financeiro, o custo de cada um de seus produtos e feitos, concretos ou sob a forma de serviço social, o contribuinte ficaria pasmado com o tanto que se paga para se obter tão pouco. Cairia em desespero com a ineficiência administrativa que consome tanto dinheiro subtraído de seu bolso. Boa comparação pode ser feita, tomando-se, por exemplo, o custo de pavimentação, por metro quadrado, em vias públicas e nos condomínios fechados. A administração pública costuma pagar pelo menos dez vezes mais. Por quê?

A encrenca começa nas disputas políticas que se estendem às campanhas eleitorais. A oposição ao poder constituído costuma focar suas críticas nos fracassos administrativos da facção situacionista.

Erra, contudo, ao enfatizar mais os pontos negativos dos meios de produção que na quantidade e qualidade dos – geralmente - malfeitos produtos finais. Carrega, pois, excessivamente suas críticas na baixa eficiência, admitindo que, resolvida esta, a elevada eficácia seria resultante natural. Não se pode confiar nesse pressuposto. Faz bem lembrar a história dos velhinhos e do Viagra. É possível montar-se uma eficientíssima máquina administrativa e esta ser de decepcionante produtividade. Do tipo onde muitos trabalham, às vezes arduamente, mas, tendo os esforços voltados quase que exclusivamente para justificar a manutenção da instituição e não para fazê-la produzir.

Nos cursos de administração qualificam-se os fins organizacionais em objetivos-meio e objetivos-fins. Os primeiros têm tudo a ver com a eficiência e os segundos com a eficácia. E um depende visceralmente do outro. A gestão pública peca por negligenciar, em grande parte, os objetivos fins e valorizar excessivamente - às vezes com toque de exclusividade – os objetivos-meio.

É sob essa triste constatação que se pergunta: os prefeitos e seus funcionários sabem para servem as prefeituras? Para que foram instituídas? Ou será que pensam que elas existem primeiramente para acolher correligionários políticos e montar base eleitoral de seu interesse?

Esquecem-se que a base eleitoral forjada apenas com o empreguismo de favor resulta em poucos votos, tomando-se como base o universo votante municipal. A grande massa, o povo, clama por resultados concretos, obras, suficientes e bem qualificados equipamentos educacionais, de saúde, de mobilidade. Por empreendimentos geradores de emprego, renda, segurança e conforto.

Também, não é por isso que se devam cantar loas ao pragmatismo absoluto. Aquele que persegue o resultado projetado a qualquer custo e sob qualquer meio, seguindo a máxima de que “os fins justificam os meios”.

Roberio Sulz
Enviado por Roberio Sulz em 28/05/2018
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