QUASE NADA EM NOSSO PAÍS SE SALVA

Acostumamo-nos a seguir padrões, e nunca nos afastamos deles.

Discutimos detalhes, tendências, programas, que parecem mostrar diferenças enormes, mas o padrão segue sendo o mesmo, a mesma estrutura, os mesmos pilares sociais.

Constantemente me perguntam por que não me defino por um rumo, uma ideologia, um espectro filosófico, entre os existentes, e sempre respondo que nada do que vi, até agora, teve significado maior que um mero detalhe na estrutura social que conhecemos e na qual vivemos.

Prefiro traduzir em exemplos o que digo, para não cansar quem se dispuser a ler.

Tivemos uma greve de caminhoneiros, pleiteando o barateamento do combustível, entre mais outros problemas, ligados ao seu ofício. Não é preciso conhecer o assunto ou estudá-lo muito, para compreender que têm razão em seus pedidos. O governo diz que a Petrobrás não pode baratear o que produz, para manter-se valorizada, líder e com boa reputação no exterior.

Ao mesmo tempo nos defrontamos com fatos inequívocos, como a venda desse mesmo combustível a um país vizinho, por menos da metade do preço interno, a constatação de que em outro país vizinho, postos da Petrobrás vendem aos clientes gasolina muito mais barata.

Ah, mas quando vendemos aos estrangeiros, eles não pagam impostos como nós.

Essa alegação, além de não explicar, devidamente, é estúpida e desarrazoada.

O objetivo de um governo é atender às necessidades do povo (primeira prioridade), ter o cuidado devido em respeitar a vontade majoritária do mesmo, estabelecer criteriosa e operante rede de atendimento em vários setores, como saúde, educação, segurança, etc . . ., e ainda cuidar da produção, de forma a incentivar produtores, sem descuidar de que o que for por eles produzido seja, prioritariamente, direcionado para atendimento do povo, até o limite de todas as suas necessidades e expectativas, para só o que restar vá para o exterior.

Temos um imenso lençol petrolífero, que pode nos servir por algumas décadas, até que esse tipo de combustível seja substituído por algo menos poluente, e estamos preferindo tratar a empresa que controla esse setor, junto com o governo, como uma divisa, como um trunfo de valor econômico, para crescer aos olhos do mundo e barganhar créditos políticos ou outros, que nada têm a ver com o atendimento adequado da população brasileira.

Só importa ver uma empresa brasileira ser modelo de gestão, ter perfil exemplar, fazer bonito lá fora, se aqui dentro se ocupa de privilegiar, bastante, seus compatriotas. Ah, mas é preciso entender que existem os tributos. É verdade!

Um governo que cria estrutura gigantesca, elefantina, amontoa dezenas de milhares de funcionários, cria uma legislação trabalhista paralela para eles, cria todo um aparato caríssimo, que envolve mordomias, viagens, solenidades, salários altíssimos, vive em palácios e, apesar de tudo isso, totalmente desnecessário e vergonhoso, não faz nada que preste e ainda insiste em privilegiar estrangeiros, em detrimento do próprio povo, não é governo, nem arremedo dele.

Legisladores que trabalham muito menos que o cidadão comum, e ganham muito mais, sentem-se importantes e não percebem como são simples serviçais, só porque têm dinheiro no bolso e muitas leis nocivas, obscenas e asquerosas, aprovadas por suas pessoas ou alguns de seus antecessores (mas que eles aprovam), estão se apropriando do bem comum, enganando o povo e destruindo a nação, fazendo de conta que fazem o oposto. São bandidos!

Juízes que usam nichos e artimanhas da lei, apegando-se a picuinhas legais, para poder atender ao crime, facilitar a vida de amigos ou pagantes, prejudicar antipatizantes e abrandar o que recai sobre simpatizantes, sem a imparcialidade e o apoio moral da ética, não são juízes e não merecem respeito, pois julgam-se especiais, e por seus atos demonstram pérfido caráter. E o caráter é a única medida que torna uma pessoa respeitável, pois o cargo só vale para essa estrutura podre que se ergueu para dar-lhes importância e para os eternos bajuladores.

Temos condição de fazer os combustíveis, a comida e tudo mais baratear para todos, e tornar os serviços eficientes, corretos, de imediato. Basta cortar três quartos de toda tributação, eliminar salários astronômicos, mordomias, quantidade enorme de legisladores, funcionários e cargos de confiança, verbas políticas, verbas sindicais, solenidades, vender tudo que não seja muito necessário ao básico e acabar com essa pose majestática, que não combina com essa cambada de incompetentes caricatos. Só o que se esconde nas sombras, de fundos suspeitos desses homens e de mais muitas empresas que com eles transacionam ou transacionaram, já dá para pagar toda a dívida do governo e normalizar as contas públicas.

Não há esperança nenhuma para as próximas eleições.

Não há nenhum candidato que possa ser considerado, no mínimo, sensato e honesto.

Mostrem-me alguém que já ocupou algum cargo no governo, em qualquer âmbito, e que saiu dali mais pobre do que quando entrou, ou que seus familiares e amigos também não enriqueceram durante ou depois, e lhes direi que é alguém com possibilidade. Só não existe.

Mesmo que tivéssemos um candidato decente (e não temos), ele estaria, fatalmente, condenado ao ostracismo, se tentasse mudar alguma coisa, pra valer, porque toda a estrutura podre continuará, e com ela continuará a corrupção, o descuido com o povo, o desinteresse pelo bem comum, o gigantismo burocrático e a tributação enorme. Nada mudará.

Falou-se muito, por esses dias, em intervenção militar. Se seria ou não válida ou se poderia adiantar ou não, não posso adiantar, porque, como já disse, tive muitos problemas com os militares no passado, e não simpatizo com seu jeito de agir, embora não possa fazer como muitos e dizer que, durante a ditadura, não houve boas iniciativas. Sou correto e não nego.

Porém, pouco importa o teor de tal intervenção, porque os militares graduados já se pronunciaram contra a iniciativa, não porque seja antidemocrática, mas porque também estão desfrutando de privilégios que o cidadão comum não tem, além de serem paparicados por alas do poder, para que dêem seu apoio ao que está aí e não presta. Estão acomodados.

A conclusão única possível é que não há saída se não houver um desmantelamento em regra de toda a estrutura governamental, envolvendo todos os âmbitos, todas as leis a regrar o que vige, a troca de todos os personagens presentes, a alteração completa da tributação e das metas administrativas e produtivas das estatais, mistas e autarquias, a participação direta de um conselho civil, sem nomeações e sem cacife econômico ou político, escolhido, diretamente, pelo povo e com curto mandato, para acompanhar todos os atos governamentais, em todos os níveis, com total transparência, e conselhos regionais, formados por profissionais e populares, da mesma forma, para implementar serviços e atendimentos, de todo tipo, em todo o território nacional. Tudo na maior transparência possível, que tende à totalidade.

Aliás, toda verba teria de ser providenciada e encaminhada abertamente, do começo ao fim, para que todos os cidadãos saibam o que acontece, como e em quanto tempo. E isso tem de estar ao alcance de todos, de modo facilitado e perfeitamente compreensível.

Há muito mais a ser dito e abrangido, mas creio que já me estendi demais, e peço que me desculpem por isso, mas sempre me ocupei de acompanhar os governos deste país ao longo de minhas décadas de vida, e nunca vi um trabalho decente, desapegado, imparcial e destituído de partidarismo. Tudo que vi esteve pejado de populismo, demagogia, parcialismo desenfreado, além da bandidagem costumeira. Sempre teremos os simpatizantes defendendo uns e outros, apontando obras, números, conquistas, resultados, mas nenhuma conta, nenhum argumento vai demonstrar que a pessoa ou grupo em questão, seja qual for, é formado de pessoas simples, pobres, desapegadas de si mesmas, mansas de coração e destituídas de todo tipo de cobiça ou ganância, e que nunca pleitearam mais do que seria equivalente ao que teria direito um cidadão comum. Não há, entre os que governam ou que governaram, nenhuma pessoa que aja como um cidadão comum, quanto mais exemplar.

Muitos vão me desdizer, eu sei, mas nada responderei e nada mudará a realidade.

Podem me perguntar: Como conseguir desmontar a podridão?

Se eu soubesse, teria dito logo de cara, mas se escrevi tudo que escrevi, é porque sei que muitos atentam às formiguinhas e deixam passar os elefantes, ou seja, discutem preços, tributos, nomes de candidatos e outras quireras, mas não atentam ao fato de que nada disso vai mudar, porque o mecanismo que sustenta a sujeira e a carestia continua o mesmo, sempre.

Só posso adiantar que nenhum dos que lá está ou dos que querem ir ou voltar para lá tem a menor intenção de mudar tudo. Vão, quando muito, maquiar aqui, melhorar um pouco ali e usufruir do poder para se ancorar com os simpatizantes e fazer do país seu quintal.

Há, porém, quem acredite que seu candidato vai melhorar tudo.

Teria que destruir tudo que aí está para melhorar, mas não vai fazer isso. Não mesmo.

Nem tem como conseguir por meios convencionais. Se não diz isso, apenas ilude.

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 01/06/2018
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