Frederico e Sebastião

Da série: PARÔNIMOS NOSSOS DE CADA DIA

(Não quero esmolas, apenas uns trocadilhos)

Frederico e Sebastião

Dois amigos de longa data. Já não tinha temperança na expressão dos sentimentos. Viviam fase que se harmonizavam com comovente intensidade. Também experimentavam épocas de estranhamento. Tergiversavam e exilavam-se em polos opostos. A convivência estreita e longeva, certamente autorizava qualquer tipo de arroubo.

Numa das fases de comunhão, resolveram abrir um botequim. Tudo caminhava bem até a escolha do nome do estabelecimento. As diferenças de opinião ganharam contornos intransponíveis e como consequência previsível romperam mais uma vez os laços. Fred e Tião, não desistindo do negócio, resolveram alugar um imóvel um ao lado do outro. Conseguiram, cada um à sua maneira, organizar e materializar tudo o que precisavam de forma célere e eficiente: móveis, documentação legal, estoques de bebida e alimentos, fornecimento regular de insumos, divulgação, enfim tudo. Só não conseguiam escolher o diacho do nome. O rompimento da amizade também rompera as ideias. Um nome razoável não vinha à mente de nenhum deles, sob circunstância alguma. Tinham tentado, coincidentemente ou não, um concurso cultural com a clientela para a escolha do nome e de um slogan para o bar, mas na última hora declinavam. O que fazer? Não poderiam ter indefinidamente um lugar inominado.

Até que um dia, instalou-se em frente aos dois um conservatório: "O Erudito".

De início ficaram curiosos, depois, conhecendo melhor, encantados.

O templo da música clássica, concentrava as suas execuções nas obras de Bach e Chopin. Os músicos, apreciavam beber e comer petiscos nos dois bares, indistintamente. Estreitaram amizade com os donos e sabendo do “drama” por não terem ainda um nome e um slogan, se dispuseram a ajudá-los. Decorridos poucos dias, o Fred contente concordou com a sugestão oferecida pelos eruditos instrumentistas. Jactante, exibiu o resultado para o Tião na placa que mandara prontamente confeccionar. “Venha Curar a sua tristesse [nota 1] com o melhor chopp da cidade”, bar Frederico Chopin. Tião não deixou por menos; tão logo recebeu a sugestão dos amigos do violino, imediatamente mandou fazer uma placa ainda maior com os dizeres: “Quando a tarde cair, venha ouvir a Ave Maria [nota 2] no melhor lugar da cidade”: Sebástião Bar.

E foram se bicando, entre taças e beijos, até que um terceiro concorrente entrou com tudo na rua e ocupou o último imóvel vago ao lado deles. Fez um bar de serenata para os românticos e conseguiu capturar a clientela antes cativa dos dois. O dono do botequim, um senhor com severo problema auditivo e farta cabeleira, se chamava Ludwig; seu bar voltado estrategicamente para o nosso satélite natural, tinha como slogan e nome: “Em noite de lua cheia, venha conhecer o escol da música clássica”, bar Sonata ao Luar [nota 3].

Notas:

[1] O Estudo Opus 10, nº. 3 em mi maior, de Frédéric François Chopin (1810-1849), compositor clássico e pianista polonês-francês.

[2] Peça composta por uma melodia do compositor romântico francês Charles Gounod especialmente projetada para se sobrepor ao Prelúdio No. 1 em C maior, BWV 846, do Livro I do compositor clássico e cravista alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750), O Cravo Bem Temperado.

[3] Sonata para piano n.º 14, Op. 27 n.º 2, de Ludwig Von Beethoven (1770-1827), compositor clássico alemão.

...................................................................................

<** CONVITE **>

Caro leitor, escritor ou não: Se você gostou deste texto ou se tem alguma ressalva sobre ele, é muito importante que VOCÊ COMENTE expressando a sua opinião. Talvez você não saiba, mas o seu comentário, seja um elogio ou uma crítica funciona como uma espécie de bússola, sinalizando se nós, poetas, contistas, frasistas, romancistas, pensadores, cronistas, enfim, operadores da literatura, estamos no caminho certo, no sentido de atingir o seu coração. Embora algumas vezes o nosso trabalho tenha um caráter mais intimista, muitas outras vezes nossos escritos são feitos PARA VOCÊ, QUERIDO LEITOR, pois é você que é a causa da nossa existência literária. Portanto, sem mais delongas, convido-lhes a comentar este e outros textos meus e de outros autores. Ficaremos muito felizes em "ouvi-lo" qualquer que seja o teor das suas palavras. Um grande abraço e obrigado pela acolhida.

.................................................................................................

© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves

Setembro/2017

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 03/06/2018
Reeditado em 25/06/2018
Código do texto: T6353973
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.