Sobre medos, delírios e o tempo

Dostoiévski em algumas de suas obras narra situações em que algum personagem, diante de uma situação de medo, incerteza e/ou perda (ou todas elas juntas) passa por um processo de delírio, quase sempre caracterizado por estágio de febre e por entorpecimento que lhe provoca convulsões ao profundo dos pesadelos. Essa linguagem, ou como posso me referir, a metáfora é a expressão da natureza humana, que para este autor é muito mais dotada da tragédia do cotidiano, do que, propriamente, essa merda de romantismo de Romeu e Julieta que não existe. Ou seja, há sobre a condição humana a luta entre o desejo e o medo, há entre a condição humana a fuga tenaz do sofrimento e, quando esta é inevitável o delírio se faz presente como tentativa desesperada por sobreviver, ou de pelo menos tentar enxergar a luz no fim do túnel. Talvez, não seja por acaso vejo com muito mais realidade essas perspectivas, no qual poderia incluir outros autores como Arthur Schopenhauer, Nietzsche, Freud e tantos outros. Bem!, por que estou falando isso? Não vou dizer que é medo, mas o sentimento de um fracasso - mesmo que circunstancial, mas fracasso e, também, do sentimento de inutilidade, ou de ter jogado metade dos anos de minha existência medíocre nas ciências sociais. Ter gasto tempo, saúde e dinheiro pra nada, porque qualquer outra coisa me faria ver as coisas - mesmo no momento de crise – muito melhores. Somo isso a minha repulsa a qualquer sentimento de missão, como se eu tivesse que ser um missionário do saber. Essa porra de discurso conformista é muito boa, mas pra mim. Quando penso em todas essas coisas lembro de outra palavrinha linda: meritocracia e a única coisa que me vem a mente é a palavra é um palavrão que me refutarei a não pronunciá-lo, mas não precisa usar de grande imaginação para pensar que meritocracia é outra merda que injetam em mentes ingênuas. E como já fui ingênuo. Hoje prefiro ter inimigos, do que pessoas que sorriem fudendo a tua vida - digo a minha (já basta essa classe política escrota!).

Depois de tudo também senti febre. Antes, tive a experiência de reduzir o tempo de 40 para 20. Sou condutor, mas, também sei ser piloto, por muito pouco não erro debaixo de um pneu de caminhão, mas pilotos são isso mesmo, andam no limite. Adrenalina! Chego em casa e no meu canto, todas as coisas estão como deixei, como se esperasse, só que desta vez olho sem o menor tesão. Nenhuma vontade nas merdas destes livros, nenhuma vontade sobre projetos que vinha escrevendo. Me limito a própria existência: um copo d’água, a retirar as luvas e os sapatos, a jogar as chaves sobre a mesa e a convicção sobre algo que não era mais uma pergunta, mas constatação: toda essa merda não valeu a pena. Daí a pouco volto à mera existência, quase ao modo da canção de Chico Buarque. É importante que se coma algo. Estou com dor de cabeça, a visão está turva, certamente, porque minha pressão deva está fora dos padrões de normalidade. Quinze minutos de descanso seria o mais adequado. Sim! Pelo meno nisso estava certo. Pouco tempo depois o corpo esfria. Chamam isso de febre. Me encolho sob o lençol. Um tempo mínimo é necessário para que seu subconsciente te leve aos sonhos, pela inquietude acordo suado, mas completamente dono do meu tempo, porque não consciente, assim como Camus escrevia sobre a previsibilidade existencial. Consciente e solícito de que devo em busca de outros tempos ...

Jorge Alexandro Barbosa
Enviado por Jorge Alexandro Barbosa em 06/06/2018
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