O Letreiro

Da série: PARÔNIMOS NOSSOS DE CADA DIA

(Não quero esmolas, apenas uns trocadilhos)

O Letreiro

Dora era uma menina especial, filha única, amada intensamente pela mãe, com a qual vivia sozinha desde a morte do pai, em tempo recente. Ao ganhar anos, imberbe da fase adulta, decidira trabalhar para ajudar a dileta mamãe com os gastos domésticos, porquanto a pensão do finado marido já se mostrava insuficiente para tal. A mãe não objetou, apenas ponderou:

- Dorinha, meu amor, arranje um trabalho honesto, que não seja desgastante e que você possa se divertir.

- Sim, mamãe, pode deixar, que vou conseguir um “trampo” legal.

Acometida pelo vírus da modernidade e irreverência, a jovem conseguiu um bico de ajudante de tatuador. A mãe, dona Margarida, não gostou muito da ideia, mas vendo a felicidade da filha no “ofício maneiro”, conforme a moça dizia, e valendo-se da providencial ajuda financeira que o salário proporcionava, aquiesceu ancípite. Não é que a danada levava jeito para coisa. O tirocínio na arte de desenhar figuras na pele, foi evoluindo e pouco tempo depois ela tornou-se tatuadora titular. Alguns meses adiante, o dono da loja decidiu encerrar as atividades. Dora conseguiu comprar o “ponto” com as suas economias e manteve o negócio, agora próprio. Mudou o nome no letreiro para Tatua Dora.

Curiosamente, a flama começou a arrefecer quando ao lado da sua loja instalou-se uma galeria de arte, especializada em esculturas. A arte de esculpir imagens arrebatou-lhe o coração. Foi amor ao primeiro cinzel. Dora passou adiante a loja de tatuagens, retirou o letreiro e o guardou. Em seguida, matriculou-se em um curso de capacitação, aprendeu todas as técnicas do ofício da nobre arte, e se candidatou à vaga que estava sendo aberta. Foi escolhida, começou a trabalhar, modelar formas em relevo, criar estátuas muito apreciadas pelos frequentadores. Os compradores se tornaram cativos. O dono do estabelecimento, seu Pompeu, viúvo, sem herdeiros, velhinho de bochechas rosadas e coração debilitado, de tão encantado que ficou com a jovem artista, decidiu deixar para ela, em testamento, o seu ateliê. Lamentavelmente veio a falecer algum tempo depois.

Passada a consternação, e em respeito à vontade do generoso amigo e protetor, assumiu o estabelecimento. As despesas advindas com a transferência de negócio sugaram todas as suas reservas. Descapitalizada, como solução emergencial, aproveitou o letreiro da sua antiga loja e com engenhosa adaptação, o pôs na fachada da galeria. Agora quando os clientes chegavam podiam ler em letras garrafais na entrada do local: EX TATUA DORA.

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© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves

Setembro/2017

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 08/06/2018
Reeditado em 25/06/2018
Código do texto: T6359142
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