Barracão da dona Ritinha

Final da década de 60 e início da década de 70 fomos morar no barracão da Dona Ritinha que era localizado ao lado da atual Casas Castanheiras na Magalhães Pinto, a única diferença era que no lugar dos prédios atuais, tinham apenas lotes vazios, cuja proprietária era também a Dona Ritinha. Apesar das dificuldades que ali passamos, aquele lugar iria ficar marcado pra sempre devido às reminiscências que ali foram registradas.
Lembro-me que era motivo de festa, todas as vezes que o armazém do povo ia entregar as compras, elas eram realizadas todo início de mês, ficávamos na maior alegria, pena que antes dos 30 dias a compra já tinha acabado, e a semana que antecedia a compra era marcada por muita fartura: fartava arroz, fartava feijão, fartava açucar, fartava carne, rs. Mas felizmente se faltava tudo isso, sobrava amor e disposição.
Outra coisa que ficou bem nítida na minha memória, é a forma que limpávamos a boca de afonso. hoje tem variedades de papeis higiênicos, cada um mais macio e mais cheiroso que o outro, lá no barracão era diferente, o banheiro, além de ser do lado de fora, era de piso grosso, na parede havia um gancho e ali eram pendurados todos os tipos de papeis: desde o jornal, o de enrolar pão e até o de açougue. Quando dávamos sorte de pegar um jornal, a limpeza era mais suave, mas em compensação quando pegávamos o papel de açougue,  ufa quanto martírio! Se não bastasse o desenvolvimento de tal atividade, um belo dia, estava lá eu sentadinho no troninho, meditando, quando de repente a caixa da descarga cai na minha cabeça, ai como sofri aquele dia, vi um punhado de passarinhos, não sei se todos recordam, mas as caixas antes não eram de plástico e sim de louça.
Também recordo-me do dia que o cachorro da dona Tânia, atravessou em disparada a avenida e cravou os dentes nas minhas nádegas. Inicialmente foi tudo dolorido, mas o paparico estava tão grande, que quase agradeci o cão por ter realizado aquela caridade, rs.
Quanto pesar teve o meu coração no dia em que eu passando roupa, acabei queimando a mãozinha do Mauricinho, oh meu amado que Deus o tenha no paraíso, quanta saudade eu sinto de ti, com certeza nossos dias seriam mais alegres com a sua presença no nosso meio.
Não poderia esquecer-me do pé de mamão, sempre que faltava algo no almoço, eu olhava pra lá e sempre tinha um pra ser sacrificado, rs.
E como esquecer daquele dia hilariante em que a minha tia teve um acesso de riso e quando menos esperava, a torneirinha abriu e encharcada ficaram suas pernas, como foi cômico aquele episódio, era impossivel uma viva alma não dar uma gargalhada.
Foi lá que comecei a estudar, e também convivi com meus tios João e José. Foi nesse barracão que me inspirei para escrever a poesia "Noites de chuva".  Diante de tudo isso posso afirmar acertivamente que seria impossível esquecer-me do barracão da dona Ritinha, que ficará eternamente guardado na minha mente e no meu coração. 



 
Simplesmente Gilson
Enviado por Simplesmente Gilson em 08/06/2018
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