ECONOMIA COMO SALVAÇÃO

Para não perder a vez ensejada pela semana do meio ambiente, voltemos ao “desperdício’, considerado nesta coluna como o impune crime ambiental e, por isso, objeto de dezenas de manifestações de concordância na caixa de e-mails deste colunista.

Pela lógica, mesmo a praticada por leigos, na contramão do desperdício estaria a economia. Assim sendo, fica evidente o confronto DESPERDÍCIO VERSUS ECONOMIA, ou melhor, a relação inversa entre um e outro. Quanto mais desperdício menos economia e vice-versa. O curioso dessa relação é que ela vale desde para a preparação de um bolo caseiro até para as equações macroeconômicas. É bom lembrar: o excedente e supérfluo de hoje será o lixo de amanhã bem cedinho. Pouco aplicado ou consumido, o produto terá evidentemente uma elevada taxa de ociosidade, demandará custo de estocagem e apresentará uma reduzida relação custo/benefício. Também vai exigir um custo elevado de publicidade e propaganda para empurrar sua comercialização. Não pára por aí o prejuízo econômico, o supérfluo vira lixo mais precocemente que as reais utilidades e passa a requerer volumosos recursos para dar-lhe destinação final.

Se simplesmente descartado em qualquer terreno baldio ou levado aos famigerados lixões a céu aberto das pobres cidades vai virar poluente tóxico a contaminar as águas de subsolo e dos cursos d’água etc., trazendo problemas de saúde à população. E dá-lhe mais custos, agora de atendimento hospitalar. Nas cidades mais modernas a destinação dos resíduos sólidos é feita nos aterros sanitários, estruturas que usam boa tecnologia para evitar graves e preocupantes sequelas na saúde pública. Mas isso custa muito dinheiro dos impostos que todos pagamos.

Ora, o desnecessário, o supérfluo tem um incidência econômica negativa maior do que se pensa. Sua produção e consumo deveriam ser vistos sob a ótica preventiva, como se faz no setor de saúde com as vacinas, nas estradas com a sinalização e proibições e noutras regras inibidoras. Urge, pois, coibir, se não, desestimular a produção e consumo de supérfluos.

Essa nossa sociedade, de fato, precisa mesmo é de um choque de planejamento, ordenação e organização! Mas, o que se vê, é o inverso, é o estímulo ao consumismo, à projeção social do cidadão pelo tanto que ele consome, principalmente de supérfluos. Nos Estados Unidos, o encorajamento ao consumo é (talvez hoje menos) algo grandiosamente inacreditável, tanto que, pelo menos bimestralmente, as famílias promovem as tradicionais “garage sales” para desovar bugigangas que antes promoviam status social e, depois, só fizeram ocupar espaço. E a propaganda é colocada na pauta para induzir a troca de mão das inutilidades. O que assim não se conseguir passar adiante irá para o lixo.

No atacado, nós aqui abaixo do Equador, já consumimos o descartável por lá, como dizia aquela música “país subdesenvolvido” dos tempos da UNE dos anos sessenta: “e só mandaram o que sobrou de lá: rock balada, filme de mocinho, ar refrigerado e chiclete de bola.... e coca-cola... Pow!

O poder público, as agências de publicidade, o sistema educacional e outros atores sociais poderiam privilegiar a busca do bem-estar, ao invés de se esforçarem para fazer o povo engolir “bolo de isopor sem manteiga”.

A riqueza, o costume à fartura e a facilidade de escolha e descarte, o modismo, a ostentação de luxo e poder certamente são consideráveis fatores que infelizmente muito contribuem ao consumo de supérfluos e, por conseqüência elevam os custos públicos em suas obrigações sociais.

Às religiões: por que não imputar em pecado grave o “desperdício”? Vamos reconhecer como ofensa a Deus jogar fora sobras de alimentos enquanto milhões de pessoas passam fome na nossa vizinhança e mundo afora. Dona Cora Coralina, inesquecível poeta goiana, de invejável sabedoria, dizia em seus colóquios que “a cada migalha de pão que se joga fora está se desconsiderando a obra do Criador, operada pelo esforço humano e da natureza na produção do alimento”.

Em síntese, é hora de economizar, de praticar a boa economia: consumir conscientemente e com responsabilidade, seguro, sobretudo, de que o supérfluo faz mal a seu bolso, aos cofres de sua cidade, de seu país, leva ao aumento de impostos, e constitui um crime ambiental, um dia, certamente, por força de lei, a ser reparado com pesados ônus para quem o praticar.

O economista Roberto Campos não se cansava de propor diferenciados e elevados impostos aos chamados supérfluos, a fim de taxar na fonte, seus irresponsáveis consumidores. Pode ainda ser uma boa ideia, desde que se identifiquem corretamente os supérfluos e que a arrecadação dos impostos assim obtida seja direcionada exclusivamente à implantação e manutenção de aterros sanitários.

Roberio Sulz
Enviado por Roberio Sulz em 09/06/2018
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