PITUXA

A Pituxa aproxima-se de onde estou sentado com uma bola de tênis na boca. Me olha com carinha tristonha exigindo de mim uma atitude imediata. Ela quer que eu pegue a bola.

A Pituxa é uma Poodle Micro Toy branquinha que vai completar 2 anos em outubro.

É a menor de nossos cinco cachorros, está conosco desde que nasceu. É o xodó da casa. Quando ela chegou conquistou a todos nós, tanto que hoje ela dorme na nossa cama ocupando o espaço que ela bem desejar sobrando para nós o que por acaso restar da cama.

De uma personalidade criativa surpreende-nos constantemente que faz com que muitas vezes comentemos como, em um animal tão pequeno, pode caber tanta inteligência.

Companheira como todo o cão é me fez entendi o porquê de rotularem, diga-se de passagem corretissimamente, como o melhor amigo do homem.

Ela olha para mim novamente, solta um gemido abafado pela bola de tênis na boca, com sua patinha arranha minha perna para chamar minha atenção e preocupada com o que poderá acontecer daquele momento em diante.

Ela pensa, se cachorro pensasse (e eu acho que pensa):

- Ele não tá me entendendo? Preciso ser mais claro?

Olho pra ela. Ela com os olhinhos arregalados, me fitando sem piscar. Já sei o que ela quer? Seu desejo é o que todo cachorro deseja, algo simples como todos são.

Não querem fortuna, sucesso pessoal, relógios de ouro ou carros de luxo. Não esperam da vida aquilo que ela não possa lhes dar, vivem o instante como se fosse o momento mais feliz do mundo. E não será mesmo? Viver cada momento como se fosse o último. Com toda a intensidade que nos seja permitido, dando o máximo que pudermos dar com a certeza de que tudo o que fizermos com vontade e dedicação jamais será vão.

Assim agem os cachorros. Assim deveríamos agir também.

Afinal de contas a única coisa que temos certeza é do presente, o futuro por mais próximo que seja ainda é muito distante e imprevisível. O que sabemos dele?

Pego a bolinha da sua boca e jogo o mais longe que consigo. Está iniciada a brincadeira. Ela sai em disparada, numa avidez e gana de quem vai salvar o mundo da destruição.

Seu objetivo? Pegar a bolinha o mais rápido que puder, se conseguir antes dela tocar o chão é a gloria. Quando pega, vitoriosa ela traz aos meus pés esperando que eu jogue novamente.

Assim ficamos um bom tempo brincando. Para ela aquele é o melhor momento do mundo, a apoteose de uma felicidade indescritível.

Ela não precisa de mais nada, tem próxima de si o que é mais importante em sua vida.

Quanto a mim? Bom . . . estou aprendendo muito com ela.