Angustias de segunda feira pela manhã II.

Viver é um ato político. Pode parecer assustador à primeira vista, mas depois a gente se acostuma.

Não adianta fugir. Desde Aristóteles já é dito que somos animais políticos. Se declarar e portar como apolítico, já é em si um ato político.

Qualquer atividade que exerçamos em grupo, que tenha impacto sobre outrem, pode ser um influenciador. A maneira e o que você come deixam uma impressão para a pessoa que eventualmente te acompanha.

Não sei quão recente é, mas de uns tempos para cá, a humanidade está cada vez mais procurando e se baseando em soluções fáceis e agradáveis. Cultura do entretenimento. Qualquer orador numa conferência de negócios hoje tem que se comportar como um stand-up comedian no palco, quando profere uma palestra ou o que seja, se quiser ter o mínimo de atenção da plateia. “Entretenha-me ou morra!”

A quantidade e a velocidade das informações hoje são tamanhas, que uma piada corriqueira hoje em dia é sobre o tempo que passamos escolhendo o que fazer, assistir ou o que quer que seja na internet, é maior do que o tempo que realmente estivemos nesta atividade.

Eu odeio seguir a moda, mas a polarização política no Brasil se tornou nítida demais para ser ignorada. Sempre existiram matizes políticas conflitantes na sociedade brasileira, mas eu tenho a impressão que depois da consolidação do Coup d'État envernizado judicialmente, a parcela mais conservadora e reacionária da sociedade achou que era um momento propício para colocar as asinhas pra fora. Havia acabado a “Era PT”. Então era hora de mudar o rumo das coisas. Chega de governar olhando o social. Vamos reformar a previdência, privatizar as estatais, vamos fazer política dizendo que não somos políticos.

O futuro não me parece nada promissor. Com Lula preso, Bolsonaro lidera as pesquisas. Minha esperança é que nos debates públicos que se farão antes da eleição ele seja exposto à luz. Para que então a massa minimamente pensante passe a ter vergonha de qualquer pensamento que um dia já teve de desperdiçar seu voto em semelhante monstruosidade.

Tem gente que fala que comunismo é coisa ultrapassada, do século vinte. Em 2018 há famílias no Brasil que vivem de coletar mandioca em terras comunais. O que constitui praticamente todo seu alimento. Junto com a água. Que também não é encanada e nem sai da torneira.

O medo de perder um potencial privilégio, que na maioria dos casos nunca vai se concretizar, coloca grande parte da chamada classe média ao lado dos interesses da burguesia. Cooptados pelo discurso do medo e do ódio, saíram as ruas com suas panelas (e empregadas) e ajudaram a fazer a lambança que deixou essa porra mais na merda que já estava.

Maldita normose. Como disse a jornalista Eliane Brum, se indignar e sentir mal nesta sociedade é sinal de sanidade mental. Qual é o sentido de passar todo seu tempo produtivo do dia trabalhando e aferindo lucro pra outra pessoa?

Às vezes é difícil não ser niilista. Mas ficar se lamentando só deixa a vida mais amarga. Já que estamos vivos, against all odds, façamos valer.

Rodrigo Margini
Enviado por Rodrigo Margini em 18/06/2018
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