A DISTÂNCIA

A DISTANCIA

Não sei por qual motivo abri no Spotify à música "A Distância" de Roberto Carlos. Apesar de não ser muito fã dele tive que me render a poesia cravada por entre seus versos:

Quantas vezes eu pensei voltar

E dizer que o meu amor nada mudou

Mas o meu silêncio foi maior

E na distância morro todo dia sem você saber

Fiquei imaginando o sofrimento deste sujeito e tentei entender sua agonia.

Vivia a angustia de um amor não correspondido e que, como muitos, não teve a capacidade de metabolizar a desilusão e reacender a vontade de viver.Termina por perder sua existência vegetando no desencanto daqueles que sofrem por amor.

Sacrificou sua vida, remoendo a magoa da ausência. Isolando-se do mundo na contagem incessante dos dias e das horas pedindo a cada momento que a morte generosa lhe alcançasse de forma rápida, porque em essência já não vivia.

Ah! Malvada memória que traz sempre as lembranças que não se quer lembrar e as recordações acesas que não se quer recordar.

A vida por si só é um suplício, vive-la na amargura é sofrimento em demasia.

Quem dera fosse o amor algo desnecessário e pueril , superficial como tantas coisas que passam pela vida, acomodando-se por algum tempo ao nosso redor, tendo seu momento de importância , e depois, indo embora sem deixar sinais e sem alterar a linha reta da existência. Que o amor pudesse ser como uma mensagem de bom dia, que nos alegra sem ser indispensável.

Mas não é desta forma.

O amor, este brutamonte desordeiro e egoísta que quer tudo para si, que não divide nem reparte, que atordoa aquele que, inocentemente, arrisca-se ao ouvir seu canto e por fim cai em suas garras.

Na sua solidão ele tantas vezes pensou em voltar para dizer a mulher amada que seu amor por ela continuava aceso, mas o temor de encontrar a mesma resposta que o sentenciou a angustia eterna fez com que ele silenciasse.

Afinal o sofrimento é bom professor e lhe ensinou que é melhor conviver com a incerteza de um talvez do que a angustia certeira do não.

Acho incrível a facilidade com que certas pessoas conseguem resumir um sentimento em tão poucas palavras. Que transformam uma folha de papel numa tela de cinema onde ao lê-la visualizamos as cenas , recheada de sentimentos. Nos emocionamos, rimos, choramos, feito bobos.

Ao ler a música fiquei com pena do rapaz e com um pouco de raiva da moça, mas quem entenderá um dia os caminhos misteriosos do coração.

Já disseram que ele tem razões que a própria razão desconhece. Outro desiludido.

O que nos resta é torcer para que ele, o amor, tenha pena de cada um de nós quando resolver nos escolher como suas próximas vítimas.

Pensando bem não posso reclamar. Comigo ele foi muito generoso.

Mas é impossível não consternar-se coma o desabafo:

Nunca mais você ouviu falar de mim

Mas eu continuei a ter você

Em toda esta saudade que ficou

Tanto tempo já passou e eu não te esqueci.

Poesia pura.