Farwell Performance ou Apresentação de Despedida ou O Ator Mentado

Você entra no Teatro da Cidade às 18:00. A Peça será às 20:00. Claro: cê tem que se preparar, certo?

Ser ator requer muito esforço. NÃO é emprego qualquer nem quebra-galhos. NÃO é emprego pra embromar -- jamais. É, sim, um emprego como qualquer outro. Tá certo? "Certíssimo". Ótimo. Vamos lá.

Atores têm duas vidas -- no mínimo. Uma é a deles, profissional, pública. Conhecida de todos. Do povão. É. Essa vida é multifacetada: um de ti são vários pelos desdobramentos que você faz. Provoca risos, desperta lágrimas, promove reflexões. Vive vidas inteiras em minutos no palco. "O mundo inteiro é um palco", visita-nos a máxima shakespeariana. E o faz de modo tão propício -- mas ficará para depois. Atrás de cada cortina há peças proibidas ao público. São os Bastidores. É. Backstages. Isso mesmo! Lá é permitido saber o que se passa somente a você e teus colegas de trabalho. Pelos corredores do Teatro cada passo é uma peça, cada passo é um ato. Uma cena que acena em gestos de silêncio. Ali gritam corações silentes. Que aguardam pela hora de se perder no ofício das artes cênicas em pleno exercício! Fugir da dura realidade das ruas -- ainda que traga parte dela para o palco. Sem talco para disfarçar a dureza dos olhos cegos da multidão aos teus problemas. (Diacho! Eu compliquei um período mais uma vez! Como posso? Só eu mesmo!) A cada pessoa já basta sua cruz -- de ferro, madeira, papel, breu, pó, líquida, espinhenta ou de luz... Cruz Credo! Verso errado! Vê-se, pelo jeito, que não fora adequado... Pudera: achei por certo valer-me de digressões oportunas e deixá-las por perto...

Mas voltemos ao teu caso. O Teatro da Cidade irá ser demolido -- qual a Casa do Stanislaw. Ah, Ator! Quantas peças NÃO compõem tua Vida! Teu emprego! Tuas chances! Tuas torcidas! Que plateia! Chuva de sangue sobre o Teatro da Cidade! Crueldade! NÃO! NÃO! Revelei algo ainda incerto; mas hei de m'explicar. Permitam-me, sim?

O Grande Mágico tem uma chance de fechar com Chave de Ouro sua ultimagia. Que fará depois? Ele fora convidado pelo casal de atores. Darkwell deverá lançar mão de alguns truques. Quem sabe não consegue salvar a tal Construção Arruinada no Centro da Cidade?

Eles deverão esperar.

Anda, Ator! Anda! Apressa-te! Dá teu tempo à Última Peça! A Derradeira! Faz com que ela remeta ao trabalho de uma vida inteira!

Na lanchonete uma mãe refugiada, com uma criança de colo, conta com seu menino para tentar vender alguma coisa aos clientes que estão por lanchar. Você nega ter como ajudar o pequeno explorado. Mente a ele. Pobre criança! Você jamais teve que trabalhar antes dos quinze anos! JAMAIS! Sente pena do garoto. Mas tudo se resume a isso. Dali a pouco aparece uma jovem grávida. Duas vidas que procuram por ajuda. "Boa noite, Moço. Desculpe incomodar, mas você não compraria uma bala para me ajudar com minha criança que irá nascer?" Nega novamente à bela jovem. E isso irá te machucar um pouco. Dizem que temos que separar as coisas. Que cada pessoa tem seus próprios problemas. Dizem isso a todo mundo. Diacho: por que não dera algumas moedas à jovem? Por que não oferecera algo a ela para comer? Diacho! Te conheço. Em breve irá procurar por ela para deixar um livro teu com a moça para que ela venda e possa se manter com esse trocado por aquele dia. Falta humanidade ao mundo. Dói na gente saber disso. São Paulo é um Palco Aberto. Deus! Como podemos tornar as pessoas invisíveis! Como podemos dar as costas a esses corações que vagam implorando por míseras moedas? Tentando ganhar seu suadíssimo pão?

São Paulo inteira é um Palco -- a céu aberto e aos corações fechados. DEEEEUS! Saia das igrejas! Toque o coração dos homens! Trazei-os à Visão dos Passantes! Que também somos plateias nesse mundo DESumano, Deus!

"Filho meu --

Falso ateu;

Venho te mostrar

Que há muito a ser feito

E por isso tanta gente a esperar...

Fora da Caridade NÃO há Salvação;

Vá com algo a ser doado; compartilhado; feito de coração.

Faça algo por teus semelhantes --

Não importa se próximos ou distantes;

Sois Vós todos Irmãos!"

Queria que essa crônica tocasse quem a lesse e fosse um convite à Caridade. Independente de (des)crença. Que ela toque teu sentimento. E que ao buscar atender a quem procura por ajuda, tu possa oferecê-lá de bom grado. E VENÇA.

Obrigado pela Atenção a esse Autor Mentado.