UMA LEMBRANÇA ALIENÍGENA

Tomamos uma lavada de 7 a 1 da Alemanha no Mineirão, e aqui, com a galera do churrasco, um porre daqueles. Mas deixe quieto, agora é curtir a ressaca do vexame. Há muito o que esquecer. Meio mole, deitado na grama, torci para que o cachorro do Carlão não me lambesse a boca, pois tombaria bebaço como eu. E alí fiquei. A mulherada na sala da casa tagarelando e alguns ainda diante da TV.

A Katia, notando meu estado "etílico", foi dar uma força na cozinha.

O tempo passou e bateu aquela sede. Peguei uma água gelada e saí serpenteando até a porteira do sítio. Deitei ao pé de uma árvore.

Noite de veranico e o suor brotava do meu rosto. Espantei uns pernilongos interessados na caipirinha do meu sangue. O céu era preto e estrelado, algo alienígena a um paulistano da gema. Fechei de novo os olhos e lembrei do fiasco do jogo. Podia ouvir, ainda fresco na lembrança, o zumbido, vaias e assobios da torcida. Malditos alemães. Apaguei. De repente, toca enlouquecido meu celular. Cochilando e meio grogue, atendi. Era a Katia alarmada. — ONDE VOCÊ ESTÁ, LUIZ?!!!!

— Relaxa, respondi. — Bateu um soninho e apaguei aqui na porteira do sítio, recostado a uma árvore.

— TÁ LOUCO?!! Estamos aqui, bem onde você diz que está, e nem sinal de você.

— Acabei rindo alto.

— Eu bebo e você é quem delira? E de repente caiu a ligação.

Minha cabeça doía.

No momento em que peguei a garrafa d’água…

CARAAAAAAAAACA!!!

— Meus olhos esbugalharam diante do que vi.

Três cangurus saltaram sobre mim como flechas rumo ao outro lado de uma estrada asfaltada, cinquenta metros adiante. Acho que a Katia tinha razão, eu enlouquecera ou passara das "bebidas"! Quis me beliscar. Estava numa região desconhecida e que nada tinha a ver com o sítio do Carlão, em Campinas. Ainda via os cangurus ao longe, sumindo entre os arbustos. O sol era quente naquela manhã…

Manhã? Como assim?!! Ainda há pouco era noite!

Caminhei pela estrada e estanquei ante uma placa com inscritos em inglês, indicando o sentido de... ADELAIDE?!!! Empalideci. Adelaide é uma cidade do continente Australiano, e os cangurus, um símbolo nacional. Peguei o celular e ví a ligação da Katia. WhatsApp, 055, Brasil. Como assim?! O que estava acontecendo comigo?!!!

Liguei para a Katia. Por sorte tinha carga e havia sinal. Ela atendeu desesperada.

Relatei o ocorrido até então. — QUE HISTÓRIA MALUCA É ESSA, LUIZ? Como chegou até aí? Estamos todos aflitos e desesperados aqui em Campinas. A turma não está acreditando na sua história!!!!!

E caiu novamente o sinal, no exato momento em que uma picape despontava na estrada.

Sinalizei afoito com o polegar e o veículo parou. Nela, um surfista solitário, muito gentil, que me perguntou se eu estava perdido. Num inglês estranho disse ser chileno e que viajava a turismo pela Austrália. Retornava do “outback”; nome dado ao deserto australiano, e seu destino eram as ondas do litoral de Adelaide. Lá chegando, agradeci a carona do rapaz e, ansioso, procurei as autoridades consulares para retornar ao Brasil. Céticos, porém atenciosos, sugeriram cautela com minha… história mais do que maluca. Katia enviou-me recursos financeiros que utilizei.

Por sorte, minha carteira de documentos e cartões estavam no bolso direito de minha calça. Retornei para casa onde fui recebido com festa e... muuuuitos… questionamentos acerca do ocorrido. Poucos acreditaram. Disseram que eu tinha armado a coisa, e um punhado de outros absurdos. Por fim, indicaram-me um ufólogo famoso que, por intermédio de hipnose, concluiu que eu havia sido abduzido em um evento do tipo “Missing Time” (Tempo Perdido).

Eu mesmo não conseguia entender, mas dada a convicção do hipnólogo, acabei aceitando seu diagnóstico. Katia e eu convivemos até os dias atuais com essa dúvida. Foi de fato um sequestro alienígena? Se não, como explicar o meu deslocamento súbito para uma terra tão distante? Pesquisando a casuística ufológica concluí que tudo se encaixava.

Só não consegui entender o motivo de ter sido eu escolhido para tal abdução. Tudo culpa do 7 a 1 daquele fatídico dia 08 de julho de 2014, no mineirão. Malditos alemães! Na Rússia a gente conversa!!!