Duplo despertar...

Estava passando da hora fazer essa faxina. Urgia realocar as coisas no lugar. Protelei esse momento por medo de não conseguir terminar ou por bagunçar mais o que já estava bagunçado. Fazendo uma breve retrospectiva posso entender por que as coisas estavam tão desorganizadas, era apenas um amontoado de sentimentos e instantes da minha vida, tudo misturado sem forma definida, apenas vividos sem a preocupação de ter sentido.

Depois de um bom tempo pensando sobre minha existência, percebi que precisava mudar. E esse mudar consistia em ressignificar algumas questões, questões estas que me fazem sentir vivificado sendo elas tambem as que me causaram as piores angustias.

Virei os meus olhos na orbita e olhei pra dentro, só assim pude perceber o quão estava escuro e pra minha tristeza mais difícil de arrumar as coisas.

Comecei por cima. Era o lugar que tinha menos coisas. Devagar comecei a organizar e separar as coisas. Ali tive o meu primeiro esclarecimento: ninguém importa com o que você está sentindo (a não ser as pessoas mais próximas), entendi que o mundo não vai parar pra que você esteja bem, as coisas independentes de como você está, vão acontecer (e devem acontecer), logo precisamos continuar e tentar seguir mesmo que seja difícil e que é escolha sua seguir esse caminho árduo sendo feliz ou triste.

Avançando e limpando e tirando o pó pude ver algumas lembranças que não me recordava mais, coisas boas, dei uma bela lustrada elas e elas reviveram na minha memória, ali recordei-me dos meus primeiros amores, como é bom amar! Lembrei de cada detalhe daquele sentimento que eu nutria por cada pessoa que amei, nesse instante me veio o segundo esclarecimento: todo sentimento puro e as boas atitudes que fiz tomado por esses sentimento foram essenciais para a minha formação enquanto indivíduo e que de alguma forma me fez sentir mais vivo e humano, não devo em hipótese alguma me arrepender do que senti pois negar sentimento sincero é o maior atentado que se pode fazer a si próprio.

Num determinado momento subiu tanto pó que os meus olhos começaram a ficar vermelhos e eu chorei...minhas lagrimas salgadas ajudaram na limpeza do local.

Comecei a ir mais para o fundo e a mexer em caixas grandes e negras, não queria mexer nelas por que essa parte do cômodo era mais baixa que o resto do local e assim me dificultava na limpeza. Me agachei e mexi nelas. O cheiro era horrível, quando as abri não pude conter uma náusea fortíssima. Vi todos os meus vícios e atentado que fiz contra o meu corpo, quando não respeitei meus limites e pus em risco a minha integridade, foi quando me veio o terceiro esclarecimento: a vida é como tragar um cigarro mentolado, é difícil, ruim e as vezes vai doer, mas ira sentir em instantes (propícios) pontadas de prazer. O mais azado nesse momento era terminar esse cômodo logo por que estava com medo de ficar tão hipnotizado por aquela caixa por fim ficar inconsciente com aquele estupor e não poder terminar a minha faxina.

Depois de ficar levemente aturdido pelo cômodo anterior, eis que chega o momento crítico da faxina, ir na parte mais profunda do local e era onde estava os mais arraigados sentimentos. Como o cômodo era muito escuro, fui até ao primeiro que eu limpei e peguei emprestado um feixe de luz da paixão, só desse modo conseguiria iluminar aquela parte do local.

Descendo mais fundo e me escorando nas paredes estreitas, qundo estas começaram a se ampliar e pude perceber que esse comodo tinha um formato de triangulo (provavelmente um triangulo isosceles) quando iluminei a base do comodo triangular, avistei uma mesinha muito bem ornamentada com um pano vermelho e uma caixinha em cima. nesse instante senti um arrepio na espinha e avancei ligeiro até a mesinha. por um momento instei a abrir a caixa e saber logo o que tinha dentro dela, mas tinha medo pois sabia que eu estava num ponto muito baixo e perigoso e que me poderia me ser dificultoso voltar até o topo.

Respirei fundo e entao decidi a limpar logo aquele lugar e abrir logo aquela caixa e ir-me embora. de subito senti um desejo enorme de destrui-la sem ao menos sequer saber o que tinha la. Peguei a caixeta e descerrei e para minha surpresa havia um espelho la dentro. recordei-me instantaneamente do mito de Narciso. Fiquei novamente levemente aturdido, quando me veio o quarto e quiça o mais importante esclarecimento: a derrocada do homem se da pela sua propria vaidade, o mais odioso dos pecados, ele ao mesmo tempo que te sustenta, ele te anula, é como cair num cadafalso e ser o seu proprio algoz. Vanglória - Vã glória!!!

Deitei-me no chão do salao triangular e para o meu espanto havia um grande espelho que tomava todo teto, foi quando reparei que estava nu. Meus olhos estavam marejados, segurava a caixinha junto ao meu sexo. Fitei os meus olhos refletidos no espelho. Girei no meu prorpio dorso, segurei firme a caixeta e num berro mais energico que dei no momento lanncei a caixa com toda a minha força ao teto, ao se chocar mais ou menos ao centro do espellho, o mesmo se principiou numa rachadura e em pouco tempo se fragmentou sobre mim. Virei meu corpo na posição inicial e esperei...

Despertei! e calmamente observei ao redor e vi qu estava em casa, na minha cama... quando me veio o quinto esclarecimento: como é bom enfrentar suas quimeras e sentir como se tivesse despertado duas vezes!

Por Jeferson Ferreira 23/04/2018