TROCA-TROCA

Leonarda, diferente de outros dias, acordou naquela manhã literalmente com o "pé esquerdo". Deu aquela parada e decidiu se benzer dizendo, “Valha-me Deus, e que venham as boas energias apesar desse deslize”.

Estava carente de amores e sabia que o resto do dia dependeria muito do “andar de cima”. A julgar pela aparência, Leonarda não era lá uma Monalisa; a natureza não lhe provera suficientemente de dotes.

Bem próximo da cama, sobre um tapete felpudo estava Laudelino, seu cãozinho de dois palmos, atento e faminto. Após um breve carinho e um pote de ração Leonarda ouviu o sinal do WhatsApp. — PLIM!

— Quem será a esta hora da manhã?

Nele, um tal Fabio, e de novo o… “Valha-me Deus!”.

— Será o escolhido? — Profetizou disparando os batimentos.

De súbito veio-lhe a dúvida. — Mas de onde é esse tal Fabio? Ou será algum hacker mal-intencionado e invasor de dados? Tá certo que ter meus dados hã… invadidos, não seria de todo um mal.

Foi então que se lembrou da ida ao supermercado um dia antes, e do momento em que um rapaz, esbarrou nela derrubando seu saquinho de tomates. Um pedido de desculpas, um breve papo, algumas risadas, caras e bocas e na fila do caixa os números do Zap trocados para um eventual contato.

Algo dizia que a sorte favoreceria Leonarda.

Dito e feito. Ligou e o tal Fabio atendeu. Encontraram-se na noite seguinte e o papo rendeu frutos. Bebericaram, comericaram, veio um comichão, beijos e o clima indicava algo bem mais caliente do que um saco de tomates caído no chão do supermercado.

Como que hipnotizados, decidiram ir a um motel. Lá chegando, à medida que a temperatura aumentava, tudo que vestiam evaporou fazendo surgir dois vulcões, prestes a explodir.

Subitamente, Fabio interrompeu um beijo e pediu a atenção da garota. Leonarda, sentou-se à beira da cama tentando traduzir o momento. Fabio se levantou, parou diante dela, olhou bem no fundo de seus olhos e lentamente descortinou o seu segredo.

— HEIN?! Não acredito, você é... MAIS MULHER DO QUE EU?!!!

Leonarda não encontrou palavras e travou.

— Eu bem que desconfiei que meu dia não seria bom!

Enfurecida, pediu para que “Fabia” a levasse embora.

Rapidamente saíram do motel. No caminho, quieta e indignada, não disse uma só palavra.

De repente, uma blitz à frente fez com que parassem o carro.

O policial se aproximou, e atento pediu para que baixassem o vidro.

— Os documentos, por favor.

Leonarda arregalou os olhos apreensiva.

— O Que foi? — Surpreendeu-se a usurpadora Fabia.

O policial conferiu os RGs. Em seguida apontou sua lanterna para o rosto de Leonarda. Olhou novamente para uma e depois para a outra. E de novo conferiu os documentos inquirindo:

— Afinal, quem é o LEONARDO JOÃO DA SILVA?

Meio confuso, diante do que vira e ouvira, o policial liberou os documentos do "casal", sugerindo a FÁBIA e LEONARDO que seguissem viagem.

Pois é! Como podem ver, os tempos estão mudados, bem mudados!