A senhora de sorriso complacente
Era madrugada, acordei de forma natural, como costumamos despertar as vezes nesses horários, mas não tornei a fechar os olhos tão rapidamente. À minha frente, na cama de minha mãe, pois dormíamos no mesmo quarto nessa época, se encontrava sentada uma senhora, que vestia roupa branca e cinza claro, branca também, era a aura, o brilho que a envolvia. Senti tranquilidade em sua presença, minha mente e corpo pareciam medicados por alguma substância calmante, tamanho era o aconchego no qual eu me entregava. Percebi que ela olhava para minha mãe, que permanecia dormindo, com uma mirada terna, bondosa. Decidi retornar à dormir, mas observando, até que minhas pálpebras se fechassem sozinhas, aquele ser de luz.
Na manhã seguinte, logo no café, contei a minha mãe sobre a visão que tive, ela, um pouco pensativa, me disse: "Poxa, ontem joguei fora um belo quadro que a Dona Marta havia me dado há vários anos. Ele estava bastante trincado, por isso me desfiz dele. Essa senhora que você descreveu é exatamente como a Dona Marta...".
Sim, prontamente recordei, Dona Marta era nossa vizinha que havia falecido há pelo menos uns quinze anos, convivi com ela durante a minha infância. Seus cabelos brancos chegavam quase nos ombros, assim como os da senhora sentada na cama, tinha maneiras muito gentis, e se dispunha a nos ajudar sempre que podia.
Talvez, pensar sobre o quadro que ela havia dado, sobre a própria pessoa dela, estabeleceu uma ligação energética com a mesma, o que a fez, por carinho, vir nos visitar naquela noite. Bem, eu enxergo dessa forma.