A INSUPORTÁVEL TRIBO DO TÔ PAGANDO !!!

Neste mundo e nesta moda em que infelizmente o dinheiro fala mais alto, é comum ver o endinheirado tripudiar sobre quem ele pensa depender exclusivamente de seu bolso. Especialmente quando em férias no litoral.

Arrogância é o que não falta a essa gente. Nos corredores dos supermercados consomem, sem a menor cerimônia, biscoitos, chocolates, sucos, frutas (sempre as mais caras) e outras mercadorias retiradas das prateleiras e dos refrigeradores. Se convidados a pagar o que consumiram, reagem indignados como inocentes ofendidos. Costumam criar uma enorme quizumba por conta de um maço de cebolinha perdido entre as sacolas-embalagens. O embalador é escrachado como incompetente, o gerente displicente, a caixa desatenciosa etc. A culpa chega fácil até à presidência da república e a uma tal crise, saco geral de pancadas da atualidade.

Alguns, na verdade, nem tem lá o poder econômico arrotado. São pobres pretensos endinheirados. Assim mesmo, impõem pose frente aos que recebem seu dinheiro. Tratam-nos como empregados subalternos, serviçais e dependentes. Quando não, velhacos aproveitadores da boa-fé alheia. A empáfia é exibida em qualquer oportunidade, desde na banal compra de um picolé até no jeito de chamar o garçom.

É só sentir o bolso um pouco mais recheado que se acham “imperadores do litoral”. Estacionam em locais proibidos, mesmo sobre calçadas e passeios, sem se importarem com os danos daí advindos. Descaradamente, obstruem as vias públicas e transitam na contramão. Irresponsavelmente, entregam nas mãos de crianças e adolescentes inconsequentes e desabilitados a condução de caminhonetes, automóveis, motos e quadriciclos que circulam, inclusive, livremente pela areia da praia, colocando em risco a integridade dos banhistas.

Alugam imóveis para temporada comprometendo alojar, no máximo, dez pessoas, mas, terminam aboletando por lá, em redes e colchonetes, mais de vinte para diluir o rateio das despesas. E ainda reclamam do senhorio, com petulância, que a geladeira não consegue resfriar a cerveja e que os utensílios de cozinha são insuficientes para preparo e serviço da comida.

Nos hotéis, pouco se lixam para suas crianças arrebentando colchões aos pulos, a brincar por horas a fio embaixo do chuveiro, a usar toalhas de banho como papel higiênico, a quebrar xícaras, copos e outros utensílios por mera diversão. Enfim, a cometer absurdos, certamente não tolerados em suas residências.

É a tribo do “tô pagando!!!”. Obturados, não enxergam no comerciante, no hoteleiro, no garçom, no vendedor ambulante, no taxista, no barqueiro etc. parceiros imprescindíveis para o bom desfrute da temporada. Têm-nos quase como escravos e indigentes. Nas ruas, ensurdecem e assustam, nas madrugadas, pessoas em pleno sono com agressivo som automotivo em estridentes decibéis e intoleráveis derengodengos.

Cá pra nós, gente mal educada não tem a menor graça nem faz falta em lugar nenhum. É gentalha, como diria Dona Florinda, do Chaves. Forma o batalhão de muriçocas eletrônicas que socam, socam, picam, picam, para atrapalhar o conforto da maioria. Preferível o zunido dos insetos de verdade. Mas, embora em minoria, é o tipo humano que termina por macular a saudável alegria de viver durante os ensolarados veraneios.

Talvez valesse a pena trocar as tolas, comuns e inócuas mensagens lidas em faixas sobre as ruas por algo como: “TENHA BONS MODOS, NESTA CIDADE!”

Por outro lado, é bom que os gestores municipais de cidades turísticas e de veraneio façam sua parte, por completo. Reparem as vias públicas e os calçamentos, limpem as árvores, recolham o lixo com frequência adequada. Fiscalizem rigorosamente, com profissionais competentes, a higiene das cozinhas comerciais, bem como a legalidade e a qualidade do comércio de bens e serviços mais procurados pelos visitantes, combatendo vigorosamente a pirataria ambulante.

Não podem ficar de fora das providências públicas a segurança e o aparelhamento dos equipamentos de saúde (hospitais, posto de saúde, unidades de pronto atendimento etc.), inclusive, para atendimento emergencial.

Urge também colocar ordem no trânsito e incentivar o segmento artístico e cultural local visando a conferir-lhe qualidade e atratividade com o fim de interagir com o visitante e sanear a cidade contra o lixo propagado pelos sons automotivos e – com desculpas aos que gostam – dos abomináveis trios elétricos.

Algumas cidades já fizeram isso promovendo atividades de boa qualidade para suplantar o atraso cultural.

Claro que a pessoa de férias quer desatar os nós do constrangimento impostos pela formalidade do dia a dia funcional. Mas, não se precisa descambar para esbórnia, nem para o desrespeito ao direito alheio.

Viver em paz é sociabilizar a alegria e a naturalidade de viver. É compartilhar - e não tentar usurpar unicamente para si - os momentos gostosos da vida.

Roberio Sulz
Enviado por Roberio Sulz em 08/07/2018
Código do texto: T6384539
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