Fazer o quê numa hora dessas?

Talvez para quem seja pai ou mãe, reagir a um acontecimento inusitado faça parte de suas vidas eletrizantes ao lado dos filhos. Porém, para quem não tem filhos e não é muito acostumado a conviver com os pequeninos, há momentos que dá vontade de virar um avestruz e enfiar a cabeça na terra para disfarçar a vergonha e a falta de jeito...

Dia desses fui a uma festa popular para o público em geral, ou seja, famílias e muitas, muitas crianças mesmo. Havia inúmeras barraquinhas cada qual com uma atração mais ou menos interessante para o público infantil. Aferir a pressão, verificar glicemia, massagens, frutas, informações de cidadania não chegavam a encantar a criançada. Já as barracas com oficinas de bolinhos, pintura facial, e distribuição gratuita de pipoca e algodão-doce... as filas eram quilométricas!

Encontrava-me eu nesta longa fila, e havia um pai com duas filhas lá pelos seus 4 a 6 anos de idade. As meninas já me pareceram meio cansadas com tantas atividades, ou então por estarem naquela fila entediante há um bom tempo –ainda mais para elas. Pelo menos elas tinham lindos balões para distraí-las. Eu não tinha nenhum balão e também comecei a sentir os efeitos da longa espera. Olhava para um lado, olhava para o outro, para frente, para trás e nada da fila andar. Observei com alegria a moça enrolando o algodão-doce com certa maestria para todos admirarem a arte e isso me entreteve por alguns minutos. Logo cansei e passei novamente a olhar para um lado, para o outro...

Nisso, senti algo encostando na minha perna. Olhei então para baixo. Lá estava o balão de uma das menininhas, filha do pai altão e bem possante. Sorri para ambos. Sem mais o que fazer enquanto aguardava na fila pelo meu saquinho de pipoca e o meu algodão-doce (que eu não comia há no mínimo uns 10 anos), puxei conversa com a pequerrucha.

- Que lindo o teu balão! Adoro azul.

A menina, só me olhou, mas não disse nada. Seguiu empunhando o seu balão distraidamente. Insistente, tentei ver o quê mais eu poderia perguntar a ela. Perguntei se ela gostava de pipoca e algodão-doce e pelo balançar de sua cabecinha percebi que aquilo significava algo como: dã, claro né... senão eu não estaria nessa fila esse tempão todo! Envergonhada, mas persistente, fiz a derradeira pergunta.

- Mas bah, adorei mesmo o teu balão. Onde é que te deram? – Como sou das pessoas que falam também com a ajuda das mãos, toquei no balão dela.

Meio encabulada, ela iniciou uma vontade de me responder e explicar onde ficava a barraca do balão. Foi então que o fatídico caso ocorreu. O balão estourou. Eu levei um susto. Ela olhou embasbacada para o bastão de plástico agora vazio, sem o lindo balão azul. Do bastão, ela levantou o olhar para o pai. Apavorada, eu também levantei o meu olhar para o pai dela... sem reação, eu não sabia o quê dizer. A surpresa da menina era tamanha que ela nem chorou. O pai olhou para mim com cara de nada. Eu me recuperei um pouco e sorri. Ele apertou a enorme mão no ombro da filha. A irmã da menina, segurando o seu balão, olhava com igual espanto a irmã, que ainda segurava o bastão sem balão.

Tentei me desculpar, perguntei se seria mesmo o meu toque no balão que o fizera estourar, ri de nervosa... enquanto encarava a menina que me fixava com jeito de quem não estava entendendo o sumiço do balão. Fui salva a tempo de cometer mais alguma gafe atroz, pois a moça do algodão-doce me chamou. Ainda pensei em dá-lo para a menininha, contudo a minha vergonha era tanta que agradeci a moça do algodão-doce e voei para a moça da pipoca e saí de lá escafedida!

Longe do perigo, comecei a degustar o meu algodão-doce e na mente um filme passava em que algum ator de comédia pastelão estourava o balão de uma criancinha e fazia cara de malvadão sádico... era assim que eu estava me sentindo. Só que em vez de me penitenciar, caí numa gargalhada idêntica a do comediante sádico, eh, eh, eh!!!