MEMÓRIAS DA ANTIGA LATINIDADE - PARTE III

1-HUMOR? Predomínio na velha Roma. Comédias de PLAUTO (úmbrio morto em 184 a. C.) e TERÊNCIO (africano de nascimento, sucesso no teatro) - peças para serem mais lidas que representadas, enredos não originais, adaptações latinas dos palcos atenienses em fim do século IV a. C., destavando=se MENANDRO como melhor dramaturgo. Escritas em papiro, sobreviveram 21 peças de PLAUTO (em comparação, em papiro 2 peças pobres e anêmicas de MENADRO), linguagem vigorosa-autêntica toda sua, fascínio de aliteração, trocadilho, superlativos, metáfora militarce símile (público de militares saídos de campos de batalha), neologismos, palavras gregas importadas pelos soldados. Deuses gregos falam nos prólogos, como Mercúrio em "Amphitryon" (mais tarde SHAKESPEARE copiou) e Lar, deus da habitação greco-romana, no prólogo de "Aululária", caracteres e enredos gregos, poucas mulheres, homens predominantes: cortesã cara, garota inocente raptada por perigosos, insuportável esposa rica, alcoviteiro, jovem pródigo, vilão, bufão, ancião digno de pena, conspirador nunca abandonado pela sorte, principalmente o escrever a quem recorrer, fiel ao senhor, mas sem o menor senso moral, habilidade ilimitada, paixão do público; o horror da punção de escravo provoca risos e o hábil-engenhoso sempre escapa. O personagem Menecmo, de "Meneaechi", é a base de "Comédia de erros", shakesperiana, Em "Miles gloriosus", a herdeira Filocomásio se desdobra: flagrada pelo escravo-espião do soldado nos braços do amante, o convence que era a irmã, imaginária. No "Amphitryon", o escravo Sósia é convencisdo por Mercúrio (com as feições de Sósia, assim como Júpiter com as de Anfitrião) que ele não é ele mesmo. Em "Aululária", incompreensão de grande comicidade. Leônidas confessa a Éuclio que lhe engravidou a filha eeste entende como roubo de seuprecioso pote de ouro. Sempre final feiz, virtude triunfará ou fraqueza será perdoada. Descrições em tom satírico, por vezes em diálogos, aspectos da vida social no originak grego, agora em coloração romana. Em "Miles glorious", cerca de 1400 linhas, mais de 100 gatas no retrato do caráter de um homem genial, 54 anos, explicando à amante e ao escravo sua filosofia de vida. "Gosto de uma boa piada (...) conversação (...)nunca discuto ao jantar (...) gastar dinheiro (...) entreter convivas (...) fazer amigos (...) dinheiro gasto na religião é sempre um bom investimento (...) arranjar esposa e pagar suas contas, não, eis porque nunca me casei (...) não ter filhos me poupa as necessidades de pai (...) controlo meus servos, não os deixo me controlarem." Sem PLAUTO e TERÊNCIO, não conheceríamos a nova comédia grega (MOLIÈRE e GIRADOUX, alguns dos dramaturgos que sofreram influênciade PLAUTO, mesmo com morais e diferentes interpretações psicológicas).

2-SÁTIRA? "Satura", em literatura, o equivalente a revista no palco série satírica-zombeteira, às vezes venenosa, de gentes e coisas idiossincrasias individuais. Figuras públicas proeminentes foram difamadas na velha comédia grega, de ARISTÓFANES a TEOFRASTO, século IV a. C.; antes dos romanos, os gregos dominaram os campos da literatura (retórica, filosofia, lírica, épica e história), imitadores declarando depois que a sátira (geralmente escrita em hexâmetros) era criação original - de LUCÍLIO, criador do gênero, século II a. C., restauram poucos fragmentos. Sátira irônica penetrante em HORÁCIO, a passo de marcha sempre divertido, e em JUVENAL, galope, menos - tipos diversos de homens vivendo em tempos diferentes e sob circunstâncias diversas. HORÁCIO obteve em MECENAS um poderoso e generoso protetor-patrocinador. O humor não é elemento necessário da sátira e sim de uma qualidade queo povo possuía e estimava - o humor das mímicas e farsas era grosseiro e obsceno, como quando general romano entrava triunfante na cidade, na era republicana, e era aclamado com gritos obscenos dos soldados. Nos tribunais, era uma forma do arsenal do advogado, útil fazer rirem os jurados e o público, ou pelo ridículo estudado ou uma tirada inesperada do espírito - CÍCERO e QUINTILIANO, especialistas nesse dom, em especial CÍCERO, ridicularizando ostensiva e polidamente os adversários (advogado da parte contrária) em caricatura: acusação ou defesa, testemunhas ocultas... 'cadinho de veneno' entregue sub-repticiamente durante o banho público, tudo extremamente engraçado. Ah, e os gracejos repetidos... por fim a picada já não dói. Os romanos tinham dom para réplicas fulminantes. Um provinciano era sósia de AUGUSTO e este o chamou intigado: "Sua mãe já esteve em Roma?" Resposta imediata: "Não, mas o meu pai já." Anunciaram que uma palmeira nascera no altar em honra de AUGUSTO e este retrucou: "Sinal de que o altar não tem tido muito uso!" Muitos também os ditos espirituosos de JÚLIA, filha de AuGUSTO. O epigrama era uma característica marcante da oratória e das letras no tempo imperial. As sátiras mais antigas de HORÁCIO são os "Sermones", conversações literárias na forma de diálogo, isentas de extravagâncias desconhecidas, um pouco em espírito de sermões e conselhos de um 'padrinho' bom, equilibrado, sensível e experiente: "Aceitar o mundo como ele é (= NELSON RODRIGUES, no bom tempo do jornal carioca Última hora", crônica diária "A vida como ela é"...), seres humanos imperfeitos, porque mais vale o ridículo que a chibata, e a obsessão do dinheiro nunca faz o avarento aposentar-se". Ainda HORÁCIO: "Engraçado o retrato do sedutor da mulher casada, surpreendida pela chegada do marido, e o pânico do amante é o dote em perigo, quanto em dinheiro isto irá custar... ou costas vergastadas, estória contada pela cidade inteira?" Melhor que tudo é a sátira sobre caça a um testamento, real moléstia crõnica da vida social romana, ridicularizada por PETRÔNIO, PLAUTO e HORÁCIO. A troça de HORÁCIO é brilhante: livro X da "Odisseia", vidente Tirésias profetiza retorno de Ulisses são e salvo - HORÁCIO 'continua' esta conversa com Ulisses no Hades perguntando como ganhar a vida e Tirésias o aconselha a "obter legado a um homem rico, mesmo de ficha criminosa, chamá-lo pelo primiro nome, defendê-lo nos tribunais, culpado ou inocente, recusar ler o testamento, mas procurar ser o consignado, tornar-se amigo das mulheres e libertos que o exaltarão, nunca falar davirtude de Penélope, ouvir sempre, perguntar pela saúde e se 'surpreender' com o testamento favorável..." Em SÊNECA, a cruel vulgaridade da pantomima "Apocolocyntosis" ridiculariza CLÁUDIO, pai adotivo de NERO, que acaba de morrer, primeiro imperador oficialmente consagrado após a morte, "A transformação em abóbora" lembra comédia grega, graça burlesca em que filósofos debatem se a colocynta (abóbora) é bicho, árvore ou rocha. Prodígio era a acensão de um mortal ao céu, fato sobrenatural a ser provado, pois o cometa 'sidus julium' foi a prova - cadáver de AUGUSTO sendo incinerado, uma águia voou da urna funerária. Recém-morto, CLÁUDIO chegou ao céu, deuses se reuniram como o Senado romano a bem do interesse público, ele provindo de uma família em que a consagração era comum, porém culpado da morte do sogro, de dois genros, de sogro e sogra da filha, da esposa MESSALINA e de muitos outros, foi deportado do céu como 'persona non grata' com aviso prévio de 30 dias para deixar as regiões celestes, moção de AUGUSTO aprovada. Desceu do céu via Roma, para o mundo subterrâneo - viu seu próprio funeral, deparou com personagens que mandara matar e saudou-os: "Como é que vocês vieram parar aqui?" Foi convocado à presença de um juiz, acusado de 256 assassinatos, condenado a dura pena por toda a eternidade, seu sobrinho CAIO CALÍGULA exigiu escravização, foi liberto (já naquele tempo.........) e CAIO o nomeou servente judicionário.

-----------------------------------------------------------------

LEIAM meus trabalhos "Itália pré-românica" e "Latinidade (ou latina idade?) rápida".

FONTES:

Um antigo caderno universitário - Faculdade de Letras - UFRJ - disciplina Filologia Românica // "O mundo romano", org. Balsdon - cap. XIII - Humor e sátira.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 15/07/2018
Código do texto: T6390623
Classificação de conteúdo: seguro