BALÕES NO CÉU

O legal de termos um bocadinho mais de... quilometragem... é o fato de podermos relatar inúmeros momentos vividos, tipo a final da Copa do mundo de 1970, no México. Nesse 21 de junho, eu morava em Santo André/SP, e o povo pirava nas ruas pela conquista da Copa. Nosso TV Colorado RQ… não era colorido (ainda), mas aos nossos olhos era como se fosse.

Na mesa da sala, próximo da TV, muita cerveja e tubaina. No fogão, mamãe pipocava as pipocas, e no céu daquela hora pipocavam os rojões, numa sinfonia interminável e inesquecível. Era uma festa regada a emoção, muita emoção.

Uma das coisas que marcou em minha mente, de modo indelével, foi a visão de dezenas de milhares de balões coloridos no céu azul, só comparada a uma invasão ufológica, dessas dos filmes de Hollywood. Um verdadeiro enxame de origamis gigantes de papel de seda, cola e arame combinados, tomando os céus, ziguezagueando, subindo e descendo com suas tochas a fulgirem incandescentes rivalizando com o balão maior, o sol.

Essa contabilidade periculosa nos céus daquele dia, era ignorada pelos torcedores, que comemoravam sem parar. Hoje seria uma verdadeira tragédia, devido às leis que proibem essa prática e aos riscos evidentes.

Mas os tempos eram outros e não havia esse temor à infração. Éramos, fruto da grande conquista da nossa seleção, inexpugnáveis e fomos ungidos pelo espírito da vitória daquele 1970. Importava-nos apenas os comes e bebes, os espocares dos fogos, a compilação de ruídos e as vozes molengas, que surgiam das bocas etílicas de muitos de nós. Tudo era festa. Motivos não faltavam.

Nossos Pelés não faziam fitas rolando hipocritamente pelos gramados. Não havia memes, havia heróis. A bola rolava redonda, dentro e fora dos estádios.

Os jogadores eram jovens atletas que buscavam se superar e suas conquistas os deixavam felizes. A felicidade alcançada repercutia e replicava nos corações de todos nós.

Os cartolas do passado conduziam os negócios visando enobrecer o esporte.

O lucro vinha, sem dúvida, mas quem mais lucrava era o torcedor que respeitava e amava seus ídolos. Hoje, por muito ou por pouco, voam para fora, pouco se importando sobre o que venham a pensar deles.

Pois é, minha gente, melhor mesmo é valorizar o garoto de 14 anos daquela Copa e a emoção incomensurável daquele dia. Ok, ele era eu, e disso muito me orgulho. Espero que isso lhes sirva de estímulo, afinal, emoção e lembrança sempre terão hora e vez em nossos corações.