EU QUERIA UMA MÁQUINA DO TEMPO

Quando eu era criança eu sonhava em ter uma máquina do tempo.

Daquelas que a gente vê nos filmes em que as pessoas vão ao futuro e descobrem o que vai acontecer com elas.

Apertam alguns botões, regulam a data em que querem chegar, a capsula começa a trepidar, balança para todos os lados, as coisas ao seu redor começam a girar velozmente e misturam-se num grande emaranhado de sons e cores, como num furação enfurecido e por fim chegam a uma época futura.

Eu ficava fascinado com esta cena, mais fascinação eu sentia quando se abria a escotilha da máquina. Onde estariam? O que iriam encontrar?

Na verdade minha vontade era me ver no futuro. Como estaria? Teria casado? Filhos? E meus conhecidos e parentes? Quem já teria morrido?

Naqueles tempos eu achava a ideia fascinante. O tempo passa e acabamos por esquecer nossos sonhos de criança.

Não consegui a máquina, mas de qualquer forma acabei por chegar no futuro. De uma maneira lenta convenhamos, mas por fim todos viajamos no tempo o tempo todo.

Agora estou no futuro e chego a conclusão que não teria sido uma boa ideia se eu tivesse a tal máquina, se eu pudesse ter acelerado o passar das horas, chegado até os dias de hoje e voltado. Não estaria maduro o suficiente para saber das coisas que agora sei. Ninguém está. Combinemos nós, tem coisas que nunca estamos prontos o suficiente para saber, em época nenhuma.

A natureza foi perfeita por não permitir que soubéssemos nada de nosso futuro, fazendo com que cada coisa aconteça no devido tempo, sem que saibamos de antemão o que nos está reservado, dando o espaço necessário para assimilarmos as ideias numa progressão lógica a fim de não levarmos sustos com o desconhecido até então.

Tudo tem seu momento e sua hora ideal para acontecer e se não conseguimos antecipar é por um motivo bastante coerente e sensato, não estamos preparados para tal.

Hoje eu me sinto pronto para saber das coisas que sei, evolui o suficiente para compreendê-las e assimilá-las sem me causar prejuízo.

Se não permitirmos que a crisalida se desenrede por si só do seu casulo no momento em que ela demonstrar maior fragilidade impedindo que se esforce na sua luta pessoal para desvencilhar suas frágeis asinhas do emaranhado de fios que até então a protegia, ela não fortificará seus músculos e estará condenada a rastejar ao solo pelo resto de sua vida sem a capacidade de voar.

As coisas tem seu tempo para acontecer, é preciso saber andar para depois correr, falar para depois cantar. Viver bastante para criar a casca necessária e protetora para suportar as dores e as más notícias que a vida nos dará com certeza.

Até para morrer é preciso preparo. Antecipar-se definitivamente, não é uma boa ideia.