Ideias sobre Deus

Não temo a Deus! Perdoem-me se quiserem (ou puderem) todos aqueles a quem a Fé cega ao invés de abrir-lhe os olhos. Também, se quiserem ou puderem, tenham a paciência necessária para tentar compreender o raciocínio.

Antes de mais nada, urge esclarecer que acredito Nele, seja lá qual for o nome que lhe deem. Passemos, pois, a analisar algumas perguntas retóricas, cujas respostas são óbvias para quem acredita (ou diz acreditar) no Grande Criador. Deus é bom? Sim! Deus é justo? Sim! Deus nos presenteou com a vida? Sim! Deus é fiel? Sim! Deus é amor? Sim!

Como todas as respostas são afirmativas, eu não tenho o porquê de temê-lo. Por que deveria temer algo que é bom, justo, deu-nos a vida, é fiel e nos ama incondicionalmente? Poupem-me dos comentários sórdidos movidos à irracionalidade, hipocrisia e heresia. Não o temo e pronto!

Agora, se conheço Suas qualidades, considerando que é a perfeição absoluta, se conheço (ou julgo conhecer) as Suas leis e se creio Nele, eu devo, sim, amá-lo e respeitá-lo. Se é amor, não é castigo. Ambas as ideias se excluem. O que Ele pratica é Justiça.

Deus mandou matar? Não! Quantos são homicidas e suicidas? Deus mandou odiar? Não! Quantos não praticam o ódio puro e simples? Deus mandou cobiçar? Não! Quantos não querem o que não lhes pertence?

Irrita-me profundamente ver os que se dizem cristãos (ou crentes de qualquer crença) fazerem justamente o contrário do que lhes dizem as palavras divinas. São coisas inconcebíveis, como, por exemplo, condenar o aborto e defender a pena de morte. Inaceitável enriquecer às custas da Fé alheia, se o modelo que dizem seguir, podendo fazê-lo, não o fez. Não se pode querer a paz incentivando a violência. É absoluta heresia usar o Seu Santo Nome em vão para obter vantagens individuais disseminando o medo em quem já está cego pela ignorância. E não é justo punir o erro alheio quando o próprio não é reconhecido.

Imprescindível aceitar que “o que aqui se faz, aqui se paga”, que “cada um colhe aquilo que plantar”, que “semear é opcional, mas a colheita é obrigatória”, que “quem deve paga e quem merece recebe”. É o que talvez se possa chamar de livre arbítrio, conceito que muitos confundem com anarquismo, mas na verdade significa que não podemos fugir às nossas responsabilidades (ônus e bônus) por nossos atos. Ou como os físicos preferem dizer “para cada ação existe uma reação”. O caos se instala quando não se aceita o erro e o que deriva dele.

Deus não nos quer blasfemos, mas também não nos quer meros repetidores. Deve-se, portanto, pensar por si próprio sem desrespeitar os que pensam e agem diferente. Só que isso é um trabalho árduo, que exige conhecer o outro lado. É aí que surge o grande perigo: quando não se está convicto de qual caminho seguir aparece o receio de que o outro seja melhor e por isso estagna-se nas críticas infundadas pela ignorância.

Continuando nesse ritmo de aceitar o diferente sem desrespeitá-lo ou menosprezá-lo, pensemos no porquê Deus, no pensamento dito cristão, é sempre referenciado como uma entidade masculina. Oras! Outra obviedade: se há o Pai e se há o Filho, não deveria haver a Mãe? Onde está Ela?

Não nos esqueçamos de que a ideia de Deus como a conhecemos hoje é fruto de uma época em que a sociedade era extremamente machista e patriarcal. Não entendo o pavor da ideia feminina de Deus. Afinal, não foi a mulher feita da costela, de acordo com o mito bíblico? A costela não fica ao lado? Então, Homem e Mulher foram feitos para cooperar e não para competir. Teria sido Eva, de fato, a primeira mulher?

Acalmem-se os ânimos. Questionar não é blasfemar, ofender ou ser herege. Quem é convicto do que prega não deve temer questionamentos. Os ditos dogmas foram criados pelos homens e não por Deus. A Palavra inspirada por Deus foi transcrita por homens que a modificaram conforme o interesse das diferentes sociedades e épocas.

Por tudo isso, prefiro a ideia de que Deus é muito mais do que dizem os livros sagrados, escritos por quem O dessacralizou. Por tudo isso, prefiro a ideia de que todos os seres e todas as coisas são microcosmos, micropartículas do infinito Macro que é Deus, cuja inexorável sabedoria consiste em deixar cada criação Sua seguir o próprio caminho, pois sabe Ele que sempre retornarão a Ele ou a Ela para, depois de tantos caminhos e descaminhos, atingir o objetivo de ser, realmente, sua imagem e semelhança.

Cícero – 18-07-2018

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 20/07/2018
Reeditado em 30/11/2018
Código do texto: T6395252
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