GUARAPARI

Na costa capixaba talvez não se encontre um lugar tão aprazível, pleno de gente polida, como Guarapari. Suas praias sempre limpas, contornadas por rochas negras e emolduradas por lindos e bem cuidados calçadões, garantem ímpar paisagem para quem se põe a caminhar pela orla sem o compromisso da ginástica formal, tampouco da vestimenta da moda - geralmente de mal gosto - em malhas de quase plena mostra anatômica. O que se valoriza por lá é curtir a paisagem, o cheiro da água espumante nas pedras e gente disposta para um bom papo.

Nos calçadões, não se exige tênis de grife - desses exibidos em corridas, trotes e marchas militares - nem de invencionices físicas para suar a camisa e forçar o coração. Basta um par de chinelos ou sandálias confortáveis somado à vontade de compartilhar cumprimentos, alegria e simpatia com os locais, residentes e visitantes. É que as calçadas são cuidadosamente zeladas pelo poder público, sem buracos nem ressaltos. Brilhante exemplo de respeito e querência para com sua gente e seus visitantes mais vividos.

Pessoas de cabelos grisalhos são vistas aos montões e por toda parte. Amadas e respeitadas! Sentadas em bancos a respirar a agradável brisa. Quando não, em elegantes cafés, a tomar sucos, sorvetes ou, mesmo, o chá da tarde. É gente de bem externalizando simplicidade e intimidade social. No comércio, amplo, variado, atualizado e bem abastecido, a singular compra de um alfinete é motivo para mais de meia hora de conversa.

As praias? São cinquenta em todo o município de Guarapari. A maioria além do perímetro urbano e algumas de acesso difícil.

Das urbanas, merece destaque a Praia dos Namorados. Charmosa, pequena e tranquila, em forma de mini enseada, lembra mais um clube privê. Sem ondas, é a preferida pelas famílias com filhos ou netos pequenos. Bebidas e petiscos são servidos em mesas rebaixadas, sob sombreiros, por garçons do “Caranguelua”. Conjunto de dois restaurantes geminados, de criativa arquitetura. Inteligentemente rebaixados e encaixados na praia, atendem aos banhistas sem perturbar a vista dos caminhantes do calçadão nem dos moradores da orla.

Vizinha à direita, quase colada, está a Praia das Castanheiras com seu largo e generoso calçadão inteiramente sombreado que leva mais jeito de praça e passeio público. Alguns hippies expõem à venda suas bugigangas; artesãos suas talhas em madeira, telas e esculturas. Um par de desenhistas-pintores está sempre pronto para quem pensa em alternativa à selfie. Aqui e acolá um carrinho de algodão doce, cocadas e cuscuz de tapioca. Tudo sob a égide do bom comportamento. Higiênico e com a responsabilidade de cada um pelo descarte de seu lixo.

Durante os dias de folguedo carnavalesco, o calçadão das castanheiras vira praça animada com tradicionais marchinhas a ritmar o desfile de hilariantes blocos carnavalescos populares: a “Turma do Funil”, o Papadefus e seu indefectível esqueleto, o Bloco das Misses, cheio de barbados e peitos cabeludos em escandalosos trajes femininos e outros pequenos grupos a levar suas batucadas. Para dar vez à criançada, tem o “Papinha”, versão infantil do Papadefus, que faz os pequenos fantasiados se divertirem nas tardes momescas da Castanheira.

A Praia da Areia Preta que se segue, ao sul, além de linda em seu formato côncavo, é tida como medicinal. Acredita-se que sua areia escura rica em monazita apresente alto teor de radioatividade e, por isso, seja benéfica para o alívio de dores articulares. A turma do reumatismo habita aquelas areias.

A Praia do Morro, com mais de três quilômetros de extensão, é exuberante. Lembra a famosa Copacabana, do Rio, pelo seu formato em suave curvatura. Difere das demais por ser aberta e, em muitos pontos, exibir ondas altas, propiciando a prática de surf. Seu calçadão, criativamente bem iluminado, é passarela para desfile de caminhantes de todos os gêneros, idades e fôlegos, em qualquer hora.

Pode-se dizer que Guarapari pontifica: primeiro por suas areias douradas e monazíticas, adornadas por brilhantes rochas negras; segundo pela valorização criativa de sua natureza, a partir de seus gestores; terceiro pelo clima de boa convivência, também praticado por sua população e estimulado pelo conjunto físico-social. Assim sendo, é uma cidade naturalmente pacífica. Até o rochedo não luta contra o mar. Interage! Ondas quebram-se sobre as rochas formando espumas choronas brancas esparramadas sob a forma de véu. É espetáculo que deixa muita gente imóvel e boquiaberta, aguardando a próxima cena.

Não bastasse tudo isso, a costa guarapariense, adornada por mini ilhas oceânicas, também pode ser vista a bordo de embarcação turística, em agradável passeio que começa e se encerra no lindo canal de águas cristalinas.

Em resumo, vale a pena curtir Guarapari. Suas cores, seus olores, sua gente e momentos que colam na memória e se estendem na lembrança por toda a vida. Lá nada falta. Dá para sentir a presença ou a ausência de alguém a quem se quer bem e com quem se sonha compartilhar prazeres.

Roberio Sulz
Enviado por Roberio Sulz em 21/07/2018
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