PARA QUANDO A FELICIDADE CHEGAR...***

Ela ainda mantém os olhos abertos para a felicidade que espera chegar.

E para isso, ela pinta os lábios e decora a alma.

Caminha pela casa levando em suas costas frágeis, os ventos soturnos das manhãs de outono; ouve os passos cadenciados no assoalho da casa antiga e espalha flores nos recantos mais sombrios, de modo a iluminar a sua vida.

Para este momento que vai chegar, ela tenta descortinar seus medos, assegurar sua fé e cuidar da saúde, de modo a esbanjá-la como criatura insana, pagã e ébria, logo que a felicidade apontar no horizonte.

E para quando for feliz, ela arruma a cama com os lençóis novos, muda a cortina para um modelo mais romântico e soterra no velho baú todas as roupas que já não lhe servem mais, porque hoje a silhueta é outra, assim mostra o seu espelho, este carrasco irremediável do tempo, mas conselheiro dos mais prudentes àqueles que são críveis.

Pendura nas paredes todos os quadros que alimenta sua alma amordaçada, e procura espalhar os livros como tesouros escolhidos, de maneira a enriquecer um ambiente, o qual não tem como prescindir desta bem-vinda magia literária.

Quando a felicidade bater à sua porta, irá encontrá-la inteira e pronta, apenas com os olhos levemente brilhantes, pois esta alegria não a visita há anos e não sabe como receber hóspede tão esquiva e ambígua.

E possuída deste tesouro tão raro, visualizará da janela da sua vida todos os caminhos de outrora, onde o enlace do passado com presente delineará todo o seu destino.

E silenciosamente junto às cortinas novas, chegará a conclusão que o significado da vida esconde-se no prosaico singelo de todos os dias.”

Angela Gasparetto
Enviado por Angela Gasparetto em 27/07/2018
Reeditado em 02/11/2018
Código do texto: T6401841
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