O espelho e eu

Estava de mal de mim há três dias. Me decepcionei e fiquei de mal de mim.

No terceiro dia, o espelho me puxou e me obrigou a olhar pra ele. Não satisfeito, me fez encarar seus olhos, que também eram meus, bem lá no fundo.

E eu percebi que eles brilhavam. Eram bonitos. Eu tentava esconder a esperança, mas ela estava lá, gritando um sorriso que eu podia calar com a boca, mas não podia controlar com os olhos.

Tentei não me dar atenção, mas percebi que meus olhos são realmente insistentes. Eles continuavam brilhando.

Cedi. Olhei bem no fundinho deles, como que pra revidar. Mas eles eram dóceis e amáveis. Só queriam ajudar!

E agora a boca também sorria.

Percebi o quão sincero é meu sorriso. "É esse sorriso que eu ofereço para as pessoas?" Pensei. Eu nunca tinha sorrido pra mim antes. Não daquela forma. E eu gostava do que via.

Quando o espelho percebeu que eu estava entendendo a mensagem, ele me deu um sorriso ainda maior, que eu só pude corresponder. Nosso sorriso aumentava, e a gente estava se encontrando de novo. E era bom! Era muito bom!

Aproveitei o som da música e dancei. Dancei comigo, e não para mim. Não queria me seduzir, não queria me impressionar. Só queria me conectar. Estar. Ser.

Nem sequer passou pela minha cabeça pedir desculpas por ter ficado de mal. Não precisava. O espelho me via e eu via o espelho. A gente entendeu tudo.