O Regresso

Ao rever meus guardados de outros tempos, uma fotografia, uma lembrança de nós dois. Até parece canção ou a rima de um verso, mas é o sentimento mais puro e verdadeiro de um amor crente e inocente.

Saudade me faz regressar e vivo a buscar os momentos doces de quantas vezes me levou ao êxtase. O amor é um fenômeno que contagia e na poesia eu o encontro em elevado estado de purificação. Eu sinto o amor como se penetrasse minha pele, adentrasse meu peito e anestesiasse meu coração. É assim que sinto.

Às vezes, pressinto que o amor não nasceu para mim e que minha imperfeição se distancia da dupla felicidade. Talvez seja estupidez ou ignorância ou, ainda, coisa do passado, explique o que minha sensibilidade não é capaz de definir. Simplesmente, não posso continuar a maltratar meus sentimentos e a ferir os dos outros, como ilusão qualquer.

Percebi nesse breve regresso o que deixei para trás. Deletei sonhos, ilusões e fantasias como se tocasse uma tecla de um computador. Fiz muito mal a mim mesmo. Fui egoísta ao extremo e um consumidor desesperado da solidão. Ah, solidão, essa sim, foi a mais fiel e companheira nos instantes de naufrágio e de melancolia.

Bate em meu coração, a saudade. O meu corpo sente seu pulsar mais forte. Minha alma hesita entre o esperar e a liberdade. Meus pensamentos se misturam, - e me - confundem. Sinto o calor do amor se impregnar na minha pele, nos meus poros e, também, o fogo queimar o meu peito.

Bate em meu peito, saudade. Tenho vontade de abraçá- la. Fecho os olhos e volto no tempo quando apenas um sorriso seu me fazia viajar. É impressionante quando busco algo em você, mesmo tão distante sinto o seu cheiro, seu toque, sua presença e, em segundos, na minha imaginação, tudo passa a ser como antes.

É impossível não chorar de saudade. São lágrimas que marcam o início, meio e fim de uma felicidade que quisera e sonhava fosse constante, sentida e compartilhada por toda uma vida. Hoje vivo ilhado, fugindo de recordações, tentando cicatrizar as feridas, apagando o passado, mas

tudo em vão. Vivo rememorando os caminhos de outrora, rastreando nossos passos e travando uma batalha com essa saudade, que não me deixa.

Calmamente, regresso às letras as quais, um dia, externaram os meus – e despertaram os seus - desejos, fazendo-nos, literalmente, sentir os prazeres, inclusive os semânticos! E nessa troca de carinhos, a solidão vence o desafio e, de repente, me imagino à beira de um rio, com minhas lágrimas por sobre as pedras e buscando na velocidade da correnteza o amor. Talvez fosse para o mar, repousasse em silêncio, como os dos mais belos segredos.

Os espíritos do amor e da felicidade saem à noite, coletivamente, tentando juntar os pedaços que se perderam pela correnteza e trabalham madrugada afora sem êxito. Afinal, ninguém consegue mudar o destino somente por mudar.

Sinto que esse amor não vai morrer e um dia, quem sabe,

depois de tantos regressos, me – e a - encontre no além

de versos, poemas, frases, declarações e canções. Até lá,

regresso além dessas letras para discorrer sobre um eterno

amor, que dentro de mim, descansa em paz.