TEMPOS DE ORKUT

Nem lembro quem convidou quem e por que razão de afinidade, mas há muitos anos estávamos, muitos de nós, lado a lado no espaço virtual, enfrentando os chiliques da internet e os caprichos do Orkut, que, depois, acabou vendido pelo turco para o Google. Éramos mais jovens, mais curiosos com os mistérios da rede, tínhamos mais tempo disponível ou, então, mais dedicação. Para entrar no “clube”, tínhamos de ser convidados por participante, a língua oficial era o inglês, havia limite de espaço para textos e era difícil baixar fotos, sobretudo as muito “pesadas”. Certos movimentos eu aprendi perguntando aos amigos virtuais. Bacanas eram as muitas Comunidades, lembro agora de duas: “Duendes, devolvam o meu isqueiro” e uma que dizia “Foda é meu pai, eu sou fodinha”. Mantive diálogos ao vivo e a cores com artistas “globais” e personalidades, que, hoje, delegam o ofício a terceirizados, quando se interessam. Você era solteira, ainda estudava ou você era ainda casado, antes de se separar e casar-se novamente; vocês ainda não tinham filhos, apenas namoravam e o casamento era uma interrogação no horizonte. Veja como passou o tempo: você se formou, namorou, casou, teve filhos, separou-se, mudou de trabalho, de cidade, talvez você nem goste mais de navegar e sua foto de perfil tenha pouco a ver com a realidade atual. No Facebook ou alhures. Comigo também aconteceram muitas mudanças. Parece pouco tempo, mas veja suas próprias fotografias, seus momentos vividos, o brilho de seu olhar, as minhas novas rugas. Não fui a sua formatura, a seu casamento, ao primeiro aniversário de seu filho, ao lançamento de seu livro, assim como você também não participou diretamente de meus momentos mais marcantes. Levamos vidas paralelas, independentes. Só descobri que você realizou aquela viagem de seus sonhos depois de feita, apreciando suas fotos e a felicidade nelas estampada. Mas, apesar da distância, nós nos acompanhamos durante todo esse tempo. Muitos de nós, ao menos. É um modo diferente de participar, de ser amigo, mas absolutamente efetivo, de tal modo que sei o que vocês fizeram no verão passado. Nosso universo de avatares tem menos mistérios do que o real, mas contém desafios ao imaginário, como diz aquela concorrida Comunidade do Orkut “Minha imaginação é foda!”, portanto, é possível que se conceba, aqui, uma grande assembléia de espíritos cultivando um pouco de afinidade. Você pode não querer admitir, por algum preconceito, mas queremos compartilhar, mesmo que a interação seja mínima. Questão de conveniência, de comodidade ou jeito de ser, sei lá. Você sabe, já cometeu “orkuticídio” e depois voltou, tentou refugar, mas descobriu que nestas páginas existia um patrimônio humano importante e um canal de expansão da pessoalidade. O afastamento significava a perda capital de figuras que já faziam parte de sua existência, de algum modo. É difícil fechar uma janela para o planeta. Creio que faz mais de 15 anos ou algo próximo. Somos todos, pois, ao menos parcialmente, de uma geração com um pé no virtual. Nem tão antiquados assim.