INFERNO OU PARAÍSO AMOROSO?

"O pássaro de Minerva inicia seu vôo apenas com o crepúsculo que se rompe". Hegel.

A noite está próxima. Durante o percurso do dia não houve nenhum acontecimento significativo, ao menos de que me fizesse deslocar minha preguiçosa atenção.

Já por volta das 18:00h, no crepúsculo, deixando o local onde trabalho, ao passar pela portaria do estacionamento, repentinamente, resolvi conversar um pouco com o porteiro.

Engraçado como a vida prepara seus labirintos e, quando menos se espera, desvenda-se as saídas.

Durante a conversa com aquele porteiro, disse-me que rompera o relacionamento com sua esposa e que, finalmente, encontrava-se muito feliz.

Estranho como as vezes as pessoas tentam afirmar o contrário daquilo que deveras sentem. Como dizia Nelson Rodrigues: "A vida nem sempre segue a mesma direção, o grande entrave é que nós, as vezes, queremos endireitar todas as esquinas".

Então um pouco mais de conversa, quando relatei-lhe um segredo - melhor dizendo, um posicionamento sobre relacionamento, respeitando, sobretudo, o que cada um pensa - quase sempre, nós, homens, esquecemos de que as mulheres, por sua própria natureza, passam por alterações fisiológicas e que, muita vez, somos egoístas em não tentar entender. E assim prossegui... Não demorou dois minutos e aquele Senhor revelou-me:

- Estou com uma vontade louca de ligar para minha esposa, mas meu orgulho não deixa.

- Ora, não se preocupe! Disse. Ligue e, caso sentir vontade, peça-lhe perdão!

E como se só faltasse um único empurrãozinho, aquele senhor pegou seu telefone celular e, ainda na minha presença, ligou para sua esposa, pedindo-lhe, preliminarmente, perdão pelo que fizera, mas sua esposa desligou a ligação.

Vi brotar nos olhos daquele senhor lágrimas que, subitamente, respirando fundo, fizeram-nas secarem. Há coisas que somente quem ama sabe o devido valor.

Esse fato fez nascer em mim, nova inquietude sobre o relacionamento amoroso. Não como se o inferno fosse o outro, mas em afirmar que ir e ficar no inferno ou paraíso amoroso, somos nós mesmos quem nos conduzimos.

Acaso a estrada estiver muitas pedras, não façamos igual ao poeta maior, Drummond, que, invariavelmente, explicitou tão bem sobre as pedras no caminho. Acreditemos que outros caminhos menos pedregosos nos espera, ou então, nos tornemos carregadores de pedras. Quem sabe desta forma, talvéz possamos construir um castelo com as pedras do caminho?

Mas também temos que carregar o peso maior em nosso íntimo que, a escolha foi unicamente nossa.

Clovis RF
Enviado por Clovis RF em 06/09/2007
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