Respeite as minas

Mulher , você é forte! Quem conseguiria ser essa criatura multifuncões que você é ?... trabalha fora, estuda, cuida de casa , pare , cuida de filho, administra as finanças familiar, lida com homens de todas as espécies e todas as cobranças advindas de uma sociedade machista que nos cria para sermos "mocinhas boazinhas".

Crescemos lutando para diferenciar o "boazinha" de "submissa " e infelizmente muitas de nós não entende que a diferença é absurda. Não existe ligação.

Somos doutrinadas a obedecer , prover e aprendermos desde cedo que precisamos cuidar do outro.

Ouvimos " feche as pernas, essa roupa tá curta, se comporte, você precisa ajudar em casa". Nos é ofertado como presentes bonecas, fogão, panelinhas e " se comporte , menina !".

" Faça balé, luta não é coisa de menina!"

"Menstruou, agora você é uma mocinha, precisa se cuidar, veja as roupas que usa", e de repente você passa da "menina boazinha" à "menina que precisa se proteger", mas, como? Sempre ouvi que não posso responder, preciso obedecer, ser meiga, dizer "não" está longe de ser uma prática...

Fica claro que a sociedade precisa rever a forma de criação dos seus filhos . Sejamos atentos as frases repetidas há anos aos nossos filhos de forma impensada.

Mulher, você é forte e deve dizer a sua filha ou para qualquer outra menina que ela nasceu para ser forte. Pois uma mulher forte se faz de duas formas : na criação, desde pequena com ensinamentos e exemplos diários e com isso essa mulher estará preparada a lidar com as adversidades e entraves, ou com os " tapas" machistas ao longo vida , endurecendo- a com o tempo, aprendendo a se defender, se esquivando no ônibus de um pênis nas costas, de uma olhada e/ou comentário malicioso. De uma passada de mão do professor, do chefe, do tio, do vizinho... Da repressão do pai, do namorado , do marido , do filho... da gravidez indesejada, onde a transa foi de dois e a responsabilidade agora é apenas sua.... de se submeter a procedimentos clandestinos ao qual você se viu obrigada a realizar porque não pode ou não quer levar a frente uma gravidez, sendo esta sentença grave ,pois a sociedade fere totalmente o seu direito de escolha ao qual lutou para ter...

Dos pagamentos salariais embasados na diferenciação de gênero, da concorrência desleal a uma vaga que certamente será oferecida a um homem independente da sua capacidade, pois este não engravida e não vai requerer licença maternidade (direito nosso), e por aí se vão ... são tantos mecanismos de proteção inseridos ao nosso dia a dia que passam a ser vistos como algo normal .

No momento em que escrevo este texto , estou sentada na poltrona de um ônibus e preciso proteger meu decote ,porque o carinha que está de pé na minha frente não aguenta ver peitos... a "menina que precisa se proteger" está acionada. E certamente os pais deste carinha em algum momento esqueceram de dizer " filho , se comporte , seja um bom mocinho, respeite as minas!".