Dois pra lá, dois pra cá

A música é uma espécie e oxigênio do amor (uma amiga me diz que é o dínamo). Funciona também, penso, como lenitivo para acalmar ou aplacar paixões. E, sejamos francos, éainda uma espécie de afrodisíaco. Em sua: a música : ela aé imprecindível a todas e todos (tô politicamente correto).

Dorival Caymmi isse que quem não gosta de samba bom sujeito não é, é ruim da cabeça ou donte do pé. Não concordo totalmente com o saudoso e, com certeza, maiores nomes da MPB, porque um cara mesmo com problemas mentais pode muito bem gostar de música, até se acalmar quando ouve, ela tem o dom da terapia, e quem é doente do pé não está impedido de ouvir e gostar de música, mas o samba é lindo. Ele quis dizer que é impossível não gostar de samba. Vou mais longe, de samba e de todo e qualquer gênero musical bonito. Quem não gosta de música, da nossa MPB, são os intolerantes, xiitas de direita e de esquerda. Motivo: a música inspira e incita à liberdade.

Dentre os gêneros muiscais, o que mais inspirava os enamorados, nos anos dourados, era o bolero. O bolero fazia - ainda faz - o enamorado vibrar, sofrer, curtir., divagar, sonhar,roer e fantasiar o grande amor. Funciona também como, digamos, ante-véspera do relacionamento amoroso quando é usado para dançar. Que é a dança, hermanss e hermanos, senão uma encenação do climaz amoroso? Éum teste (drive, rsssss) definitivo para que o casal avalie se dá certo ou não o seu relacionamento.

O bolero sempre foi o balizador do grande amor, o hino, o carro chefe3 musical. Os mais adentrados nos anos conhecem vários boleros: "Vereda Tropical", "Perume de Gardênaia", "Angústia", "Señora, "Sabor a mi", "Besame Mucho", "Perfídia", "Três Plavras", "Nosotros"... e tantos outros.

Porém, gente, há um bolero, de autoria de João Bosco e Aldir Blanc, "Dois pra lá, dois pra cá" que é mais que antológico, é didático, ele retrata fielmente o que é um bolero. Ele mostra desde o friozinho na alma do timido e nervoso enamorado quando tira a musa para dançar até o climax quando ele ouve a distinta sussurrar no seu ouvido: "São dois pra lá, dois pra cá". Diz que o coração do rapaz batia mais forte que um bongô e tremia mais que as maracas descompassado de amor. Que a cabeça rodava mais que os casais. Que o carinha sentiu o perfume gardênia da amadae a mão dela no seu pescoço. E, delírio, sentiu s costas macias da moça que tinha no dedo um falso brilhante e que seus brincos eram igualzinhos ao colar. E notou, sem que isso representasse nada demais, a ponta de um torturante band-aid no calcanhar da musa. Depois foi tomar muito uísque com guaraná e ouvir, dançando outravez, a voz da moça sussurrando no seu ouvido, "Sao dois pra alá, dois pra cá".

Perguntar não ofende: quem nao conhece uma historinha igual a essa? Eram os bailes da vida, o romantismo dos anos dourados, o bolero dando as cartas e jogando de mão. João Bosco fez uma melodia extraordinária e Aldir Blanc uma letra arretada. E para completar deram o bolero para Elis Regina arrasar com sua voz poderosa e emocionante.

Acho que só um cara frio, completamente xiita, sem humor, que não viveu um grande amor e, quem sabe, quem nunca dançou um bolero nao gosta dessa jóia musical. Para mim é um dos maiores clássicos da MPB. Inté.

P.S. Agora vou ouvir a música e tomar uma lapada, mas não de uísque com guaraná, mas uma bicada de Pitu Gold com limão.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 13/08/2018
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