Ingratidão

Venha de onde vier e de quem vier, a ingratidão é algo doloroso. Corrói as entranhas e termina no óbito da fé.

Geralmente isso ocorre de modo visceral, pois nos pega de surpresa e parte de quem mais amávamos e confiávamos.

A despeito da motivação (inveja, despeito, indiferença, falta de empatia, ou todos), o processo é cego e não o percebemos até que caia sobre nossas cabeças, como um piano despencando na calçada vindo do 20º andar. Pode crer, mata na hora.

As consequências são inúmeras e nenhuma delas é boa, exceto a experiência.

Não costumamos dar muita importância para a experiência, a não ser depois de passearmos pela dor da ingratidão algumas vezes, depois de estarmos curtidos e envelhecidos em barril de carvalho. Somos crédulos por natureza, isso falando dos latinos: povo caloroso, receptivo, afetuoso e banhado pelos trópicos.

Como disse, a ingratidão normalmente costuma vir de pessoas próximas, entretanto pais, mães, filhos e cônjuges são os praticantes mais frequentes. Caso não lhe venha à cabeça outras pessoas que poderiam desferir o golpe fatal em seus sentimentos, quero lembrar que vizinhos, colegas de trabalho, cunhados e amigos da vida inteira podem lhe surpreender.

Uma das atitudes que mais gera raiva no desafeto é a nossa incredulidade. Alguns se valem de nossa ingenuidade ou burrice, porém outros adoram um desafio. Ficam irritados porque levamos um tempinho até perceber que a situação é real.

Ignoramos, desculpamos, passamos batido, achamos que foi um momento infeliz e que aquilo não vai mais se repetir, afinal de contas amamos aquela pessoa e só conseguimos enxergar o reflexo do nosso amor, portanto, se jamais poderíamos fazer algo assim, por que então ele ou ela faria, não é mesmo? Faria sim!

Quando a sacanagem armada não dá certo, costumam se afastar por um tempo e depois vêm com um festival de meias verdades, misturadas com grandes mentiras, nas quais, por fim, acreditamos. Não se engane, mesmo ressentidos, podemos repetir muitas vezes o processo.

_Mas, por quê fazem isso com a gente?

Geralmente acontece porque, lá no fundinho do seu íntimo, a pessoa que nos despreza alimenta algum sentimento de insatisfação por nosso progresso ou generosidade. São como assassinos em série, que deixam pistas, doidinhos para serem descobertos e levarem a fama pela imensa “esperteza”, pela “vingança” ou por algo doentio que só existia na cabeça deles.

Comumente são nossos vampirinhos de cabeceira, sempre por perto, esvoaçando no perímetro de nossas conquistas e, de alguma forma, usufruindo ou querendo usufruir delas.

Não percebemos os olhares, trejeitos com o canto da boca e os famosos sorrisos amarelos quando compartilhamos sonhos ou vitórias e não nos damos conta da felicidade interna deles quando estamos por baixo.

Particularmente acho que é um desvio de caráter, uma falência moral, falta de Deus, ou talvez indícios fortes de sociopatia, quem sabe...

O fato é que, quando nos viram as costas, quando nos roubam, nos humilham ou destroem o que nos pertence, a dor é insuportável. Alguns simplesmente somem depois do feito, nos deixando um “por quê?” doloroso no ar. Outros têm a desfaçatez de jogar na cara, de dizer o porquê e como fez tal coisa em detalhes.

Nos deixam sem defesa, nos culpam pelo que fizeram ou pelo que os “obrigamos” a fazer.

Isso é tóxico! São pessoas tóxicas! Vangloriam-se do pecado sem culpa. Afinal, fomos nós quem permitimos; que não observamos o que estava bem debaixo de nossos olhos.

Alguns casos são tão clássicos, tão evidentes, que pessoas próximas tetam nos alertar para o perigo iminente. Não os ouvimos. Ficamos com raiva.

Depois da casa arrombada não há muito o que fazer. Infelizmente há situações em que ficamos intimidados a tomar uma atitude por medo de represálias, pelo respeito ao grau de poder, por necessidade, por pena, enfim, cada um sabe onde seu calo aperta.

Os ingratos são maus! Não nos roubam apenas um objeto, um amor ou uma oportunidade, nos roubam o amigo. Roubam o sentimento que nutríamos e não sabemos o que por no lugar para continuarmos a viver em paz. Fica apenas o vazio e a sensação de impotência misturada com uma apatia e ódio profundos. Mas, não é um ódio de verdade, acho que está mais para raiva de nós mesmos. Ninguém gosta de passar por trouxa. Deveria haver um código penal só para podermos enquadrar essas figuras.

Depois da terra arrasada, do choro, do luto, nos resta a reconstrução. Às vezes dá para remediar, outras não. O fato é que o estrago no íntimo é infinitamente maior que o material, isso quando não nos denigre socialmente, aí a coisa é bem mais séria e creio que deva mesmo ser caso de polícia. Mudar de cidade, estado ou país e refazer a vida pode ser uma opção. Mas, nem tudo está perdido, eu acho.

Quando resolvemos sair da caverna emocional, um mundo novo e mais seco se descortina além da porta. O certo é que nada mais será como antes. Nossos olhos perdem um pouco do brilho, mas são compensados com a amplitude da visão. As pessoas que se aproximam sentem que não estamos muito abertos, isso se realmente aprendemos a lição. Contudo, existem casos de credulidade crônica, uma doença que normalmente afeta os pais e pessoas com baixa autoestima.

Por fim, quero afirmar que A CULPA NÃO É NOSSA! Apesar de termos sido vitimados, não fomos nós a gestar a maldade. Fique feliz em saber que você é uma pessoa do bem e não deixe morrer o bem que há em você. Só fique mais esperto, mais atento às maldades do mundo, ok? Não podemos ser eternas ovelhas no matadouro. Tenha em mente que algumas situações fazem parte de nosso processo evolutivo. Bom seria que não precisássemos passar por algo tão nocivo assim, ainda mais porque sabemos que muitos não precisaram sentir a famosa “punhalada nas costas”, o “fogo amigo” para aprender a viver nessa selva chamada vida. Precisamos é de muita força para dar a volta por cima e apoio para não perdermos a confiança em nós mesmos.

Essa coisa de que “o sol nasceu para todos e a sombra só para alguns”, abala a auto estima de qualquer um. Parece até que nascemos debaixo de uma nuvem carregada que só chove em cima de nós e que o melhor é aceitar que dói menos. Não, não aceito isso!

Existe uma máxima que diz o seguinte:

“_ Não podemos impedir que os pássaros voem sobre nossas cabeças, mas podemos impedir que eles façam ninhos sobre elas."

Tanto para as vítimas, como para os tentados a cometer ingratidão, fica este alerta: O mundo dá voltas e numa delas podemos nos esbarrar novamente.

Precisamos estar fortes e termos uma boa memória para não cairmos no mesmo buraco, nem em novos buracos. Fiquemos então atentos aos sinais.

Quanto aos ingratos, que por ventura estiverem lendo este texto, aviso que “dor de barriga não dá uma vez só” e a pessoa ou pessoas que tiveram o infortúnio de o terem conhecido, podem ter aprendido a lição e não estarão dispostas a socorrer ou conviver com alguém como você. Só há perdão se houver arrependimento e não remorso, pois este ultimo é passageiro.

O universo costuma ser generoso e ensina a quem está disposto a aprender e evoluir, por isso sempre é bom lembrar aquilo que normalmente aprendemos quando crianças e, caso alguém aí não tenha aprendido, nunca é tarde.

Lá vai:

“Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles, pois esta é a Lei e os Profetas.” (Mateus 7,12).

Fica a dica!

_Rose Paz_

Rose Paz
Enviado por Rose Paz em 14/08/2018
Reeditado em 02/11/2018
Código do texto: T6418751
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