Travessia

Uma ponte desmoronou ontem na Itália. Muita gente, atravessando a ponte, não voltou para casa.

Uma ponte de silêncio e reflexão se ergueu diante de mim e tive dificuldade em transpô-la. Quem era essa gente? Quais eram seus sonhos? Por que faziam essa travessia? Onde estavam indo?

Estamos em constantes travessias e há pontes diárias a transpor. Nos últimos tempos tenho andado à procura da ponte que me levará à minha melhor versão.

Acredito que dar o melhor de nós para o outro seja o esforço de muitos e, nesse viés, acredito também que ninguém deveria aceitar menos do que merece. Migalhas plastificadas e ecos vazios de volta tornam qualquer travessia muito penosa.

Há terras que não merecem nossas sementes afetivas mais preciosas. Mergulhar de cabeça em corações rasos é, no mínimo, um ato suicida. Gastar o nosso tempo com quem não o aprecia, ou não merece, é dar pérolas aos porcos. [E nesse contexto, falo de relacionamentos no seu todo; amizade, trabalho, família e amor].

Recuso-me a fazer qualquer travessia quando as coisas deixaram de fazer sentido; quando o terreno não merecia a semente que lancei; quando não há reciprocidade. Enfim, me afasto quando a travessia me leva a transpor a ponte dos descaminhos; pontes que desmoronam e que não me levarão de volta pra casa.

"Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver".

Suzana França
Enviado por Suzana França em 15/08/2018
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