Eu perdoei. Mas por mim e não por você.

Minha avó é uma pessoa muito simples. Ela sempre me disse que da vida só se tira a lição e mais nada.

Conversando com minha doce companheira na qual divido minha vida, eu a disse que estava perdoando pessoas que me prejudicaram muito em meu passado. Pessoas que me renderam anos de pesadelos. Mas expliquei também o motivo. Não é por eles. É por mim.

Ela então me olhou com aqueles olhinhos castanhos profundos aguardando a explicação.

- Se trata sobre o meu direito de esquecer por espontânea vontade. Sem que este universo justo, nos meus últimos anos, retire de mim todas as minhas lembranças por não saber administrar a intensidade e o lugar correto destas memórias ruins, ou a importância real destas pessoas. E pior, temo que por implicitamente mostrar para ele que a lembrança ruim será sempre mais importante do que qualquer outra lembrança, a dolorosa lição dele seja que eu forçadamente esqueça de tudo.

Comecei a me lembrar de todos os casos de pessoas ao meu redor que em seus últimos dias de vida, simplesmente não se lembravam mais de seu próprio nome. E todas em comum, carregaram mágoas que eram tão profundas, que nem sequer se atentavam em mais nenhum pequeno detalhe ou momentos felizes da vida. Eu não posso permitir que minha única centelha nesta terra encontre a mesma amargura.

Portanto resolvi mudar meu jeito de pensar. Se antes eu escrevia na rocha o nome de quem me fez mal e na areia o nome de quem me fez bem, resolvi que seria então o contrário daqui pra frente.

Perdoar não precisa ser difícil. Afinal, você está fazendo isto por você e não pelo outro. Perdoar não precisa ser sinal de força. Pode ser apenas uma gentileza com você mesmo.

Luz pra você.

Marcello Morettoni
Enviado por Marcello Morettoni em 15/08/2018
Código do texto: T6420252
Classificação de conteúdo: seguro