A Neta da Barata Clotilde

A Neta da Barata Clotilde -

Ontem, esse ser humano que vos escreve saiu muito tarde da faculdade, contudo, felizmente, teve um encontro satisfatoriamente esplêndido com ninguém mais ninguém menos que a NETA DA BARATA CLOTILDE. Para aqueles que não sabem da história ou não lembram mais, barata Clotilde foi uma das minhas melhores amigas durante uma madrugada fria e angustiante. Ela sobrevoou o entorno do meu apartamento e me deu ótimos conselhos sobre esperança e autoestima. Não. A história não foi um conto, mas sim uma crônica verídica.

Agora você deve estar pensando: "Leonardo, que droga é esse que você fuma? Que tempero estranho você coloca na sua comida? A faculdade te está te deixando louco?"

Não, caro leitor. Talvez a faculdade esteja contribuindo para uns parafusos a menos? Talvez. No entanto, Clotilde não foi fruto da minha imaginação, mas sim uma baratona (bem grande e cascuda) que me ensinou MUITO!

Voltando... Estava eu voltando - odeio repetir palavras, mas, visto que estou escrevendo às 5h da manhã, perdoem o vício linguístico - para casa no ônibus convencional que eu pego. Ele estava bem vazio, acho que só havia eu, o motorista e mais duas pessoas. Do nada, com um olhar bem cabisbaixo, resolvo olhar para o assento do lado e, vocês não imaginam o NOJO que fiquei ao ver tanto lixo pelo chão e entre as frestas dos assentos. Todavia, exultante de alegria fiquei ao ver a neta da Clotilde caminhando por entre aquele lixo de papéis, plásticos e migalhas. Ela veio caminhando em minha direção, naturalmente para me dar um "oi", acredito eu. Olhei para ela e disse:

- Oi, minha linda! Como você está? E sua vovó tá bem? Manda lembranças!

Ela mexeu as anteninhas querendo dizer que a vida não estava sendo nada fácil na cidade grande. Com um olhar triste, tentei consolá-la da pior forma, ao dizer para ela seguir o baile. Ao que ela novamente balançou as anteninhas, só que dessa vez com mais intensidade, querendo dizer que se ela seguisse o baile ela seria pisoteada. É... Parece que não sou tão bom conselheiro como tal!

Eu gosto de dar nomes aos bichos, então a batizei de Benedita Baratildes. Fiz uma nova pergunta à ela:

- Benê (somos íntimos já), mas porquê está sendo tão difícil?

Ela me revelou que o mundo das baratas se contrapõe ao nosso mundo. Nós humanos gostamos de viver ao ar livre, enquanto elas adoram um fundo do poço. O lixo as acolhe. Após essa revelação bombástica, Benedita chacoalhou as asinhas, naturalmente dizendo "adeus e um grande abraço!", virou-se para trás e voou lá para a parte traseira do ônibus. - Será que que ela gosta da adrenalina de sentar naqueles últimos bancos, já que a cada lombada/quebra-mola que o ônibus passasse, ela daria uns pulinhos? Não sei. Achei Benedita muito tímida e madura pra idade dela, certamente não puxou o gene aventureiro de sua avó Clotilde. Essas Barovens de hoje...

Depois de ela ter ido, fiquei pensando em como elas se sentem bem em meio ao lixo. Sim. Sabe o porquê? Porque lá elas encontram alimentos e o ambiente úmido é propício para a reprodução das quais.

"Tá, Leonardo! E como isso pode me trazer uma lição de vida?"

É simples. Quando você se sentir no fundo do poço, aproveite as oportunidades que lá estão. Alimente-se com as migalhas de fé e esperança que você certamente encontrará jogados fora, ainda que essas migalhas tenham o tamanho de um grão de mostarda; utilize os plásticos que você encontrar pelo caminho para se proteger das tempestades de angústias e os papéis para limpar tudo aquilo que lhe causa mal. É no fundo do poço que nós também damos valor às pequenas coisas, portanto, valorize muito os gestos e cada oportunidade que a vida lhe oferecer. Acredite. Mesmo no fundo do poço, há vida e esperança!

- Leonardo S. A. (17/08/2018)

-----------------------------------------------------------

Aos que quiserem ler a crônica da barata Clotildes, ela se encontra no meu perfil deste site.

Leonardo Salomon
Enviado por Leonardo Salomon em 17/08/2018
Código do texto: T6421649
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.