A arte do "Não dizer". Reflexões desnecessárias.

A arte do “Não dizer”

Onde foi que se formaram essas pessoas que escondem o que pensam e o que sentem? Quando foi que tudo isso começou? Não lembro quando foi que o silêncio virou moda! Não senti essa transição. Quando esse fenômeno me chamou a atenção, já me encontrava inserida nele, recebendo e participando de seus efeitos.

As pessoas têm medo de se mostrar. Têm medo de parecer ridículos! Medo da rejeição ou de não ser correspondidos. Então, o jeito foi, de comum acordo (como uma espécie de pacto universal e inconsciente, sabe?) decidir por não dizer. E assim, não dizem, nem com palavras, nem com gestos, nem com atitudes, nem mesmo com expressão corporal, essa linguagem universal que era nosso último recurso para “ler” pensamentos! (que fique claro que não precisa ser linguista para isso). Parece que a maioria das pessoas se tornaram mestres em disfarçar isso também. Não me admira se daqui a pouco o homem consiga burlar os resultados da máquina da mentira, aquela que denuncia quando faltam com a verdade. A ciência nunca superará a capacidade de manipulação humana!

Mas voltando à questão da comunicação, o ser humano sempre buscou a eficácia nessa arte. A linguagem humana passou por diversos aperfeiçoamentos até chegar no nível como a conhecemos atualmente. Cada vez mais, as pessoas procuram formação como cursos de capacitação e aperfeiçoamento na área da comunicação, a fim de traçar uma intimidade com ela, buscando formas de se expressar com mais clareza, bem como entender melhor a comunicação do outro. E isso não se restringe apenas à linguagem escrita, não. Muitos buscam, principalmente, por uma melhoria na comunicação oral, com o intuito de perder a timidez, ou adequar a fala de cordo com a formalidade ou informalidade do contexto. E há aqueles que simplesmente possuem um “bloqueio”, por assim dizer, quando o assunto é comunicação. Por isso procuram ajuda profissional para romper essa barreira.

Independente da situação, a ideia é sempre melhorar ou transformar a capacidade linguística, visando *se aproximar do outro*, por intermédio do diálogo, da comunicação. Uma prova disso é a procura por cursos como: Oratória, Expressão Corporal, A arte do bem falar etc. É uma infinidade de oportunidade de despertar e expandir a habilidade comunicativa. Há diversos livros de autoajuda sobre esses assuntos, até mesmo cursos de nível graduação e pós-graduação. Nos tornamos líderes na arte da comunicação, mas para que mesmo? Chego à conclusão de que chegamos a essa excelência para recusá-la, ao menos nas nossas relações mais importantes.

Por que tendemos (e vou me incluir nisso também, pois me peguei, de repente, agindo da mesma forma) a reprimir nossos sentimentos, esperando que o outro adivinhe?

Buscamos aperfeiçoamento na comunicação para utilizar com estranhos, com pessoas com quem mantemos uma relação formal, como alunos, professores, chefes, gestores e autoridades. Esquecemos de colocar tudo isso em prática com pessoas mais próximas, e as que realmente importam para nós! Essas “têm a obrigação de nos conhecer bem e adivinhar nossos pensamentos e sentimentos, e o que esperamos delas”! É assim que pensamos intimamente, mesmo que não tenhamos a coragem de admitir.

Quando foi que adotamos a prática do “não dizer” com nossos chegados?

Eu diria que é mais que um “não dizer”: É um “negar”! “Se gosto de fulano, ele tem que saber! Deve sentir!” A saudade por vezes machuca, mas não se manifesta, e o outro pensa: “Se não me procurou até agora, é porque não sente minha falta!” É claro que tiramos conclusões! É óbvio que nos equivocamos também em nossos julgamentos. Pois não sabemos mais “ler” o outro. A pessoa pode estar blefando em seu comportamento, tentando demonstrar justamente o oposto, mas por quê? Qual o propósito dessa negação? Vergonha de demonstrar que tem sentimentos, que é humano? E assim as pessoas se afastam, perdem a chance de se conhecerem melhor; pois essa falta de comunicação, ou a negação de sentimentos distancia as pessoas. Eu não preciso dizer (verbalizar) que alguém não é importante para mim. Basta não fazer nada que denote o contrário.

Acreditamos naquilo que “vemos”, e as pessoas já não se mostram mais como realmente são.

Eu vejo uma necessidade extrema de se reinventar uma nova comunicação, mais simples, mais justa, mais sincera, em especial com as pessoas do nosso convívio, aquelas mais próximas. Que não falte essa comunicação, esse diálogo, que nem sempre precisam de palavras, aliás, nosso léxico está longe de dar conta de nossa comunicação. Nosso modo de se relacionar é muito complexo. Mas nossa comunicação costumava ser mais simples e mais clara.

Bom… eu ia dizer mais alguma coisa, mas, pensando bem, vou fechar o texto fazendo jus ao título!

Joalice Dias Amorim (Jô)
Enviado por Joalice Dias Amorim (Jô) em 17/08/2018
Reeditado em 21/08/2018
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