TSUNAMI DIGITAL

Era o dia 11 de março de 2011. O rádio do meu carro noticiava o maior terremoto da história do Japão. Ondas de mais de 10 metros varreram cidades inteiras provocando baixas e prejuízos incalculáveis. Caraca! Como assim, pensei! Estacionei o carro e voei pelo hall do prédio. Corri em direção ao elevador com as sacolas que trazia do supermercado. Apressei o passo em direção a porta do apartamento, e ao abri-la dei de cara com Ptolomeu, meu cãozinho de estimação latindo muito e querendo me dizer algo.

Chamei minha esposa e nada. Coloquei as sacolas sobre a mesa da cozinha e olhei tudo em volta. Luana havia saído e notei que algo muito estranho estava acontecendo por ali. Ela havia esquecido a televisão ligada e ao me aproximar para ver as imagens pisei em algo úmido no chão, nem liguei já creditando a Ptolomeu a travessura. A reportagem da emissora mostrava as ruas japonesas cobertas de água. Barcos, carros, ônibus, carretas e tudo mais sendo arrastado como se fossem barquinhos de papel num aguaceiro infernal provocando pânico e destruição.

Assustado pelas imagens fortes, mas aliviado pelo fato de ser um telespectador, me acalmei. Porém, subitamente parei, e de queixo caído notei a imagem dramática de uma onda da tsunami batendo forte e arrebentando a tela do meu aparelho de TV.

A água jorrou por todos os lados escorrendo em cachoeira pela lateral do móvel e tomando todo o chão da sala. Olhei para baixo e vi meu tênis todo molhado. Em seu interior, meus dedos lutavam uns contra os outros para safarem-se daquela mega enxurrada que tomava cada milímetro do tapete, já ameaçando inundar tudo. Os móveis da sala, recentemente comprados numa promoção da Black Friday, estavam totalmente molhados. O pânico acelerou meus batimentos cardíacos e senti que estava prestes a ter um enfarto!!!

Voei como um raio para a lavanderia em busca de um rodo, pano ou qualquer outra coisa que me ajudasse a conter aquela enxurrada.

Maldição!!! Acabei tropeçando num balde deixado pela minha empregada em frente ao tanque. Tudo voou pelos ares. Caí feito uma abóbora sobre o Ptolomeu, que assustado latiu enlouquecido.

O telefone tocou. Seria do corpo de Bombeiros, polícia ou de algum vizinho querendo saber se eu ainda estava vivo ou precisando de socorro?!! Santo Deus!!!

Meu coração estava prestes a sair pela boca em meio àquela loucura toda.

De repente, acordei e percebi que estava todo molhado, havia feito xixi como uma criança sem fraldas. Maldita dúzia de cervejas que tomei no boteco do Alemão, misturado a vodka, uísque e outras porcarias. Bem que o Tuco me alertou — Devagar aí cara, afinal, não é só Deus que mata!