Confissões de um Deputado



Existem duas coisas que me irritam no mundo: A ingenuidade das mulheres e a ignorância da sociedade. Eu, um homem jovem, seguindo os passos do meu pai, tornei-me deputado. Deputado. Ao trinta anos de idade já sou deputado. Mas é justamente sobre essa ingenuidade das mulheres e a ignorância da sociedade que eu quero falar.

Os senhores foram chamados aqui hoje, mas não esperavam que participariam de uma reunião de cunho político em meu gabinete. O fato é que faço, nesta reunião, um convite a vocês, meus queridos amigos, meu povo, minha gente! Preciso melhorar a minha imagem. Preciso que o povo veja em mim o futuro da nação. De deputado, quero ser senador, de senador, presidente do senado e o próximo passo... Presidente da República!

Mas isso só será possível, é claro, se os senhores me ajudarem a abafar os meus deslizes. Ora, quem nunca cometeu deslizes? Ainda mais eu, um jovem político ambicioso que almeja ser o dono da nação. Acham estranho o conceito de “Dono da Nação?” Pois é... Mas a verdade é esta: A nação tem dono.

A nação é a ingenuidade da mulher. E como é fácil pra um homem enganar uma mulher! Conseguimos a faceta pelo simples motivo de que somos menos sinceros com os nossos sentimentos, menos entregues, menos sedentos. E com o sistema democrático de hoje, vocês acham mesmo que a nação pertence ao povo? Absolutamente! A nação é dos banqueiros, meus caros. É do FMI, é do Presidente! É daqueles que guardam dólares em baixo dos panos, nas maletas e cuecas. E quem não os tem? Me digam? Quem não os tem?

Eu não sou peixe grande, o que faço é muito pouco... É besteira... Nunca peguei mensalão, por exemplo, mas sempre soube que em algum momento isso poderia acontecer, por um ou outro motivo. Mas não sejamos idiotas! Quanto mais pessoas envolvidas, maior é a possibilidade do estouro de uma bomba.

Mas estourando, lhes digo, eu não renuncio. Não. Quem renuncia admite... Ora, se renuncio digo que é verdade, que não tenho como provar. Então eu afirmarei ser verdade até o fim. Até se cansarem de mim. Digo que sou inocente e faço cara de tranqüilo. 

Você acha mesmo que político não sabe atuar? Pelo amor de Deus, tenho amigos que mereciam um Kikito... A palma de Ouro, o Oscar... Atores brilhantes! Principalmente em sua própria defesa. Negam e não renunciam. Tá certo! Pra que se entregar assim à forca? Pra que botar a cabeça na guilhotina tão fácil?

Então, senhoras e senhores, estamos aqui reunidos, hoje, para que eu possa pedir o seu apoio. Eu preciso de voto. Preciso que cada um de vocês me arrume votos. Cada um aqui presente pode atuar em alguma região do país, por exemplo, em algum estado. Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo! Quero voto do nordeste, do sudeste, do centro-oeste, do sul, do norte, de todo o país. Quero ganhar em disparada na pesquisa da campanha eleitoral para a presidência... Até lá, é um longo percurso, eu sei. Mas se tudo der certo, chegarei rapidamente e se vocês me apoiarem, garanto fidelidade. E para quem conseguir verba para a campanha... De alguma empresa, empreiteira, mineradora, ou coisa do tipo, é claro, tem recompensa! Algum de vocês negaria um mensalão? Eu não...


OBS1: Assim imagino eu que deve ser a cabeça da maioria dos nossos políticos.... Extremamente bem dotada da faculdade de falta de humanidade, seriedade e respeito, com o cargo que ocupa, com sua funçao social, com a idéia das mulheres no poder e com o futuro da nação!!!
Oscar Calixto
Enviado por Oscar Calixto em 07/09/2007
Reeditado em 08/09/2007
Código do texto: T642802
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