SUASSUNA NAS ALTURAS

Me revolta saber que certos ídolos de nossa vida se vão assim... PLIM!!!

Subitamente! 

E essa revolta se deve a uma figura... OK! Magnificamente justa, diga-se de passagem, mas Deus é titular de uma frieza ímpar e incomensurável.

Tá, Tá, gente! Não estou desmerecendo o homem... digo o Pai. 

Só estou passando uma impressão minha, só isso!!! Caramba! Tem que fazer upload de nossos ídolos assim, tão friamente?

Veja o caso de Ariano, o Suassuna. O velhinho mais inteligente e simpático que vi nos últimos anos na TV e nas redes sociais. TV e nas redes sociais sim, porque antes só o conhecia por suas belas e espetaculares obras impressas. Divinamente impressas. 

Obras escritas uma a uma com a competência de uma relojoeiro.

Mas Deus tinha que mandar chamar o relojoeiro?

Pelo que sei, por mesas daqui e dali, Deus o recebeu bem. Disseram que pouco tempo depois de completado o processo de passagem pela alfândega, São Pedro, o recepcionista mor do plano superior, teve que segurar a onda do bom velhinho por umas coisinhas:

— Tudo bem?

— Tudo.

— Nome, meu filho.

— Ariano... Ariano Suassuna ao seu dispor. 

— Suasunga?

Ô, meu Deus, até aqui ouço a surrada piadinha do meu nome!

— Não, meu senhor, Suassuna... ssuna, não sunga!

— Tá, ok! À propósito não sou seu Senhor, sou São Pedro, um humilde servo dele. Por favor, assine aqui e vá para aquela salinha branca. Aguarde e receberá um sêlo de avaliação, assim como os demais que por lá estão.

Suassuna seguiu para a salinha branca. Meia dúzia de pessoas já se encontravam ali. Cinco minutos depois recebeu um sêlo com os dizeres: Aprovado – Liberado para Download.

— Hein? Liberado para Download? Que troço é esse?

Um irmão ao seu lado, ouvindo sua exclamação responde.

— Isso mesmo, o senhor tem um sêlo de qualidade que lhe permite ser baixado via download nas mesas brancas, em seções digitais da nova modalidade, que substitui a psicografia.

— Veja só! As coisas estão bem moderninhas por aqui, digo, por lá!

— Se estão!

— Só que às vezes o sistema é invadido por vírus.

— Vírus?! AHAHAH! Não me diga!!!

— Isso mesmo! Dizem que é coisa do capeta.

— Ah vá!!!!

— Numa dessas um irmão incorporou via download no sistema de um médium e pegou vírus. Por medida de segurança, foi deletado pelo chefe da casa. Mas inutilmente, pois zicou todo o sistema que teve que ser reinstalado. O Pobre infeliz foi pro saco e nunca mais se soube de seu paradeiro.

— E isso pode acontecer comigo?

— Sim.

— Tô fora! Vou falar com São Pedro e devolver o sêlo.

Pode uma coisa dessas? Um cara dedicado como eu, bater a cachuleta, ficar contaminado por vírus e sumir numa mesa branca?!!! Uma vida toooda dedicada às letras, e de repente um vírus estrumbica tudo? Não!!!

E assim, querido leitor, foi que Suassuna conversou longamente com São Pedro e seu sêlo foi alterado e destinado a outra sala e, por Deus, tudo foi acertado. Ele está muito feliz e servindo como voluntário numa sala que recebe político corrupto recém chegado. O escritor quase recusou, dizendo que prefiria vírus. Mas São Pedro pediu que se acalmasse, pois Deus sabe o que faz e o poupou para salvar sua obra como Romancista e Dramaturgo.

O serviço até que era simples, talvez um tanto tedioso e repetitivo: protocolar a ida de corrupto por corrupto para a “fatídica salinha vermelha”. Mas sabe-se também que a cor nem foi um problema, pois boa parte dos recém-chegados já estava muito familiarizada com ela.