AS BEM BOLADAS BOLAS DE MEIA

Como bom pouca telha, você certamente lembrará das brincadeiras com as bem boladas bolas de meias, improvisadas para as peladas nos ‘campinhos’ de bairro, invariavelmente de terra bruta marcada de grama e gravetos. Não dá pra negar que também era bacana quando algum amigo trazia uma bola de ‘capotão’ novinha, ou mesmo de plástico, que ganhara de presente de aniversário na noite anterior.

O clima de arranca-toco dos micro campeonatos de bairro era mágico, e as pancadas que tomávamos nas divididas eram ‘marcantes’ e, pasmem, não doiam nada.

As partidas começavam no par ou impar e já saíamos babando, enlouquecidos, como se fosse aquela a última partida de nossas vidas nas quatro linhas invisíveis do campinho improvisado.

Tocos, paus e pedras faziam o papel de traves, que mudavam de lugar o tempo todo gerando a maior confusão. E para variar, a bola terminava no telhado de alguma casa próxima, cujos proprietários, nem sempre amistosos, relutavam em devolver. De repente, vinha ela, o plano B, a estrela da festa, ou melhor, da partida; a bola de meia, estrupiada e remendada para salvar a brincadeira. Havia sempre cinco minutos a mais de partida. E mais cinco, e outros cinco.

Que louco era. Quanta canelada, quanto chutão de tirar tampa de dedão; sem chuteiras nem tênis, que nem se cogitava. Todavia, nunca vi nenhum garoto reclamar ou se intimidar, dadas as bolhas nos pés da partida do dia anterior. Ficavam mais motivados ainda, buscando se superar no placar. Só “baixávamos a bola” quando nos chamavam para o lanche com bolachas maizena ou os pães que mamãe tirava quentinhos do forno e nos servia, regados a Toddy quente; o chocolate que a garotada adorava.

Ou ainda os deliciosos bolinhos de chuva, que nos dias… de chuva… nos fartavam e deliciavam. Quanta alegria! Era, enfim, o futebol da bola de meia que tínhamos na veia e que, apesar de o tempo teimar em nos privar… na lembrança ficou.

Pois é! O resultado das Copas do Mundo nem sempre nos brindou com a vitória, todavia, o futebol estará para sempre no inconsciente do brasileiro.

Das brincadeiras do passado, aos dias de hoje, nosso muito obrigado à bola de meia... Somos criativos e improvisadores sem dúvida. Qualidade dos fortes e sinônimo de nossa raça, que nunca desiste, nunca se entrega. Muuuito depois veio um tal MacGyver, o mestre das gambiarras, mas muuuito depois.

Bola pra frente. Se for de meia, melhor ainda.