TEMPO

Meus cabelos brancos tem se multiplicado em ritmo acelerado, logo em mim crente do tempo dos homens lentos.

Os vejo escorrendo por todos os lados. Contudo não refletem minha idade, sou muito mais velho do eles possam denunciar.

Tenho envelhecido, não em virtude de tempo como natural, em virtude dos eventos e do inesperado. Meu espírito está cansado, talvez por estar afrente do instante.

Meus cabelos brancos se multiplicam, por tudo que é vida e morte.

Minha embalagem, o recipiente em que aguardo a degeneração do corpo em função dos dias, não reflete o que sou por dentro.

Por fora estou vívido e pulsante, tal qual um produto exposto em propaganda. Por dentro envelheço e morro, em simetria com o abandono de tudo que é banal.

E não temos vivido de banalidades?

Meus cabelos brancos não representam meu estado de homem, tampouco são sinônimo de experiência.

No desencontro em que vivo lição nenhuma serve de experiência. Não sou adepto a moralidades, e por isso sou punido.

As proibições dos códigos de moralidade ficam impressos no semblante e os cabelos brancos são o resultado final.

Meus cabelos brancos se multiplicam, quando estes acompanharem a verdadeira idade que carrego em meu ser tudo será cinzas.

Hugo Carvalho
Enviado por Hugo Carvalho em 25/08/2018
Código do texto: T6430060
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