Mais uma crônica soteropolitana

(Uma resenha itapagipana com linguagem do cotidiano)

Uoston Pereira Bomfim, cheio de leotria, era exatamente assim: conversador e agoniado, mas de um grande coração, como normalmente, o baiano é.

Uoston, é o seu nome de batismo e de crisma, que acabou se tornando Uostinho, porque ele era muito mirradinho. Depois Tinho, para facilitar a pronúncia, e por fim, teve agregado o apelídio, Tinho Calvoeiro, pois esse era o seu ganha pão, num pequeno forno, nos fundos do seu quintal, lá para as bandas do Lobato, onde produzia o material que é o combustível para o churrasco.

-E assim começou a resenha:

-Ói véi, já me retei no buzu, com o motô, que numa curva da porra, na vinda de Pituaçu, debaixo de uma chuva de açoito da miséra, para não ter que atropelar um torcedor abestalhado do Vitóra, que tava de bombeira, se saiu da pista, pegando de jeito a tauba de um vendedor ambulante, um sujeito muderninho, que só não ficou mais retado que o cobra, que viu suas nicas espalhadas, que nem quando um miaeiro é jogado no chão, só para saber das economia.

Ôxe, dava pra ver a agonia de todo mundo e a do cobra, para distrocar dinheiro graúdo, enquanto que um sujeito meio rasta, com cara de sacizeiro, fretava na borboleta, queixando mermo, só pra ir de ponga até o fim de linha da Ribeira. Onde já se viu!

Deus é mais e depois de eu quase me arrombar todo, você me chama pra comemorar o aniversário do seu filho caçulo, com muito orgulho, mas sem nenhuma iskó, nem iskarió, só com essa cerveja peba -e quente, pra tanta gente e esse guaraná de Pepsi, aguado, que até parece kissuqui, que só menino catarrento bebe. Me deixe, viu!

Eu vou é para o bar de Maria Lerda, aquele que eu já tinha falo, lá no Uruguai, para os aviciados que nem eu por uma cerveja boa e gelada, que é uma maresia para atender, mas ligeira como uma porra na hora de cobrar e lá vou ter com o pessoal do meu baba, que até tem vaga no meu Baêa, que hoje parecia até time de lesado...

Bora, Baêêêa, minha porra!

E assim se foi ele, completamente fardado, com bandeira e tudo e com aquele gorrinho tão peculiar.

Amanhã, segunda-feira, tem que produzir bastante calvão, pra no fim do dia, cumê água e continuar secando, praquela carniça do lixão não ser campeão.

Inspirado no genial João Ubaldo Ribeiro,

baiano da Ilha de Itaparica

e a meu ver,

o maior cronista do Brasil.

‘in-memorian’ e com todo o respeito.

rodriguescapixaba
Enviado por rodriguescapixaba em 26/08/2018
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