Girassol

Eu tinha uns seis anos de idade quando o reparei pela primeira vez, em meio a um jardim de muitas folhas verdes e poucas flores, seu amarelo realçava mais que o sol. Meus olhos, atentos, os observava da janela da sala. Me disseram que ele seguia o sol, então, eu o observava, diariamente, para saber a veracidade da história. Às vezes, me aproximava e observava seus detalhes. Nunca gostei muito da cor amarela, mas dele eu gostava.

Como será que ele seguia o sol? E como é que ele fazia nos dias nublados? Eu sempre o observava. Acho que foi a primeira vez que eu tive a prova e acreditei que as plantas, realmente, eram seres vivos. Como podia uma plantinha ir atrás do sol? Buscando uma fresta de luz em algum lugar.

Sabendo que ele era vivo, em minha imensa inocência, me coloquei a conversar com ele diariamente. "Bom dia, senhor Girassol! Dormiu bem?" Eu acreditava que, na ausência do sol, ele dormiria e pela manhã acordava e seguia seu trabalho de rastrear quaisquer raios solares. Ele nunca me respondia, mas parecia me ouvir, pois a cada dia que passava, lá estava ele, brilhante feito o sol, sorrindo pra mim.

Os dias foram se passando, e eu sempre ali. Coisa de criança sem irmãos, que via beleza e importância em tudo que é coisa. Certo dia, o senhor Girassol amanheceu triste. Estava cabisbaixo, não quis trabalhar. Perguntei-o se estava bem, mas ele, mais uma vez, não respondeu. Ficou ali, olhando pra baixo enquanto o sol tentava alcançá-lo por trás das nuvens. "O que houve com o senhor? Está triste?" Ele não respondia e assim foi por alguns dias. Foi angustiante vê-lo assim. Aos poucos ele foi perdendo sua cor vistosa, que se destacava em meio ao verde do jardim sem flor. Foi murchando, secando, morrendo. Eu joguei água nele, tentei convencê-lo a ficar vivo. Mas, meu amigo Girassol se foi. Quem rastrearia o sol agora? Fui dormir preocupada, o sol, certamente, sentiria falta dele.

O tempo foi passando, me conformei com sua ausência e eu mesma comecei a seguir o sol. Aprendi, com meu amigo, tudo que devia ser feito. E todos os dias eu me fiz girassol. Alguns dias eu acordava cabisbaixa, mas me lembrava que foi exatamente assim que o senhor Girassol perdeu sua cor. Então, logo eu me punha a procurar o sol, qualquer fresta, qualquer raiozinho de luz solar.

Os anos se passaram, e do meu amigo Girassol eu continuo a me lembrar, eu sempre achei que ele não me respondia, mas uma tremenda lição ele me ensinou, sem falar. Não importa quão escuro ou triste esteja o dia, o sol sempre estará nos esperando em algum lugar.

Amanda K Abreu
Enviado por Amanda K Abreu em 03/09/2018
Reeditado em 09/04/2020
Código do texto: T6438330
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.