O casamento

Eram sete da noite, Carol estava nervosa, havia pedido folga naquele dia justamente para essa ocasião, era talvez o grande momento da sua vida, a partir dali tudo ia ser diferente, uma nova vida iria surgir. Então deu conta de arrumar a casa, tomar aquele banho completo, colocar a melhor roupa, a melhor maquiagem, hoje as coisas irão mudar.

Ana estava tensa, seu chefe não parava de pressioná-la, trazia consigo uma enorme pilha de documentos para terminar o trabalho em casa. Tomou 2 ônibus e ainda fez uma pequena caminhada até chegar em casa, onde esperava tomar uma ducha, conversar um pouco com o seu amor de toda a vida, comer alguma coisa e trabalhar como uma verdadeira “workaholic”.

Ana abre a porta e toma um susto: a casa estava arrumada!

Perplexa, Ana imagina que Carol aprontou alguma coisa e estava esperando o seu perdão, provavelmente daria, afinal ela era a trouxa da relação. De repente Ana aparece, com aquele vestido curto vermelho, aquele cabelo Chanel lisinho com os grandes olhos verdes mais brilhantes do que nunca.

-O que você aprontou dessa vez?- Pergunta Ana sentando-se no sofá.

-Não se trata do que aprontei e sim do que vou aprontar.- falou Carol abrindo uma garrafa de vinho- Você sabe o quanto isso é importante para nós, essa noite vai mudar nossas vidas.

Antes que Ana pudesse falar algo, Carol pega uma taça, coloca um pouco de vinho e oferece à amada. Em seguida, corre para o quarto e pega o símbolo daquela noite que iria mudar tudo. Volta à sala e em frente a Ana, se ajoelha e fala:

-Ana, são 2 anos de muitas alegrias, muitas confissões, muitos prazeres, muito amor.-Carol extremamente emocionada- E tudo isso que vivi com você foi extremamente especial pra mim, acredito que pra você também.

Carol puxa uma pequena caixinha e abre, lá estão os anéis, realmente uma visão bonita, mas Ana estava assustada.

-Ana, em nome do nosso amor, quer se casar comigo?

Ana está em choque, não esperava enfrentar tal situação tão cedo, ela queria se casar com Carol, mas não naquele momento, as coisas ainda estavam se desenvolvendo, ela ainda não estava completamente segura. Enquanto para Carol, elas já haviam vivido uma eternidade juntas, por mais que muita pouca coisa poderia realmente acontecer em 2 anos, mas ali já era mais do que o “tempo correto” para se iniciar uma relação. Em profunda tensão, Ana fala:

-Não Carol, não posso.

Carol entra em choque, não esperava tal afirmação que para ela soaria como uma traição ou algo pior, pergunta com voz chorosa:

-Por quê?

-Porque vivemos pouco.

-Foram 2 anos.

-Mas não foram suficientes para isso.- Ana se ajoelha junto de Carol –O casamento é algo muito complexo, não dá pra tomar esse tipo de conclusão agora.

Carol nem pensa em ouvir as “desculpas” de Ana, para ela, Ana não estava mais afim: não tinha amor, empatia, tesão, nada. Tranca-se no quarto e chora. Ana não consegue entender tanta comoção por algo banal, uma recusa de casamento não é algo tão duro, pelo menos para ela. E essa noite de sexta-feira acabou assim: Carol trancada no quarto chorando e Ana tomando um vinho tentando compreender a situação.

O casamento é um situação estranha, um verdadeiro fato social: a sociedade te impõe essa “obrigação” e você é pressionado à segui-la. Talvez Carol tenha sido vítima desse tipo de coisa, ou ela realmente acreditava no amor à ponto de confiar os seus sentimentos à alguém que ela não conhecia o suficiente para dar um passo tão grande como esse. Uma pressão social que destrói relações de puro amor que talvez poderiam deixar o mundo um pouco mais doce.