um dia volto pra casa

Um passante com olhar bovino volta-se para cá e contempla tudo, como se a paisagem lhe fosse banal.

Um cego esquisito, alguns aleijados entediados, velhos cães doentes perambulando sem rumo, todos desfilam suas misérias.

O vento frio transfixa as almas estilhaçadas e mentes atormentadas pela marcha das horas...

O tempo que nos escorre pela vida toda, até apagar.

Estou na chuva e as gélidas gotas perfuram meu crânio enquanto a água escorre fria como sangue morto.

Cidade grande, lixo escorrendo pela enxurrada nas sarjetas, bueiros entupidos, grandes quantidades de sacos plasticos nas calçadas, roedores encharcados correndo entre as caixas de papelão que abrigam os habitantes das ruas.

Cidade grande... quem disse que era pra ser tão indiferente ?

Cidade fria tal qual necrópole com muitos ainda vivos, mas mortos...

A fumaça densa e negra que sai dos velhos caminhões de lixo e entulho, disfarça o cheiro dos esgotos tranbordantes. A chuva cinza e impiedosa cai sobre os galhos podres de arvores espectrais, e os pássaros, velhas pombas encardidas, andam como ratazanas de penas procurando comida... inda lembro...

" Minha terra tem palmeiras..."(*)

(* Gonçalves Dias )

"Um Dia Volto Pra Casa" R.Bezerra Santos/SP 07/09/2018

RBezerra
Enviado por RBezerra em 08/09/2018
Código do texto: T6443057
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