QUANDO A CRÔNICA QUER SER CONTO

Naquela noite acordou com os gemidos e sussurros de sua mãe. No quarto ao lado o pai daquela noite parecia ser mais interessante do que os de outras. Ficou quietinho para não atrapalhar o prazer que se derramou noite à dentro. Conseguiu dormir. Na manhã seguinte vira uma mulher que não via a muito. Alegre, suave, firme e até mais carinhosa, mas sempre exigente. Não tinha do que reclamar. A roupa limpa. O café na mesa. Tudo arrumado para ir a escola. O lanche pronto. A escola paga. Livros à mão. Quero um doutor, sempre falava.

Testemunhei seus cuidados com sua cria criança e adolescente. Na Igreja aos domingos no banco mais afastado, na rua em casa e na escola. Sempre diziam ser o filho dela sem dizer seu nome.

Fez-se rapaz e o trabalho foi o pai e o marido que sua mãe não teve, mas sempre quis. Tudo mudara. Respeitei, assisti fiz o que pude e também fui feliz.

Fui para sua formatura. Uma linda formatura de um rapaz feliz, um homem feliz que soube entender a razão das coisas que o fim justifica o meio. Sem isenção de críticas e julgamento e preconceitos. Foi o Pai Maior que deu a incumbência e ela tinha isso bem claro e cumpriu Ele sabe como.

Nem por isso ele foi delinqüente nem maldisse da sorte, nem menos digno. Mudou só sua história e da sua família.

Nunca quis saber como tudo começou. Nem vi nenhum um outro parente naquela casa.

Quis o tempo todo ser seu pai nem que fosse naquela noite.

Crontei.

Manuel Oliveira
Enviado por Manuel Oliveira em 08/09/2007
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