VOCÊ VOTARIA NO BODE CHEIROSO, CACARECO OU MACACO TIÃO?

Não é de hoje que o brasileiro na hora das eleições, seja para vereador, prefeito ou outro cargo, faz um voto de protesto.

Relembro um pouco a história da política de Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo e como esses protestos apareceram naqueles estados.

Comecemos por Pernambuco. Um animal apelidado de “Bode Cheiroso” foi eleito vereador no município de Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco.

Papai gostava muito de contar que no final da década de 60, a população da cidade de Jaboatão estava indignada com o perfil dos candidatos a vereador (parece notícias de hoje) e, em protesto, resolveu votar em massa num bode que andava pelas ruas da cidade, mais conhecido como Bode Cheiroso. E não deu outra: o Bode Cheiroso foi eleito com centenas de votos!

Pena que o bicho não pode assumir o cargo, porque foi considerado um candidato nulo pelo TRE. Pensei que era porque ele não tinha paletó e gravata para tomar posse.

As eleições naquela época eram muito diferentes das de hoje. Obviamente, naquele tempo não havia urna eletrônica. Existiam as cédulas eleitorais, as quais eram distribuídas em grande quantidade durante as campanhas. O nome do Bode não constava nas cédulas de votação, porém o povo bravamente escrevia “Bode Cheiroso”. No dia da eleição, as ruas ficavam inundadas daqueles papéis. Teve gente que aprendeu a escrever só para poder votar.

E o nosso povo muito criativo, criou através do Luiz Wanderley uma música que diz assim:

Bode Cheiroso

“olhe como é que pode me diga doutor

O diabo dum bode ser vereador

Foi na eleição de Jaboatão que o bode cheiroso se candidatou

Quando foi na hora da apuração a maior votação o bode levou...”

Letra e música completa no link: https://www.youtube.com/watch?v=d56ujwYvHd8

Hoje se fala muito em “ficha limpa”. O bode, que era “ficha limpa”, apesar de sujo e fedorento ganhou mais votos do que alguns candidatos que usavam bons perfumes, mas em compensação, os seus atos eram bastante sujos. Contam que tinha até uma bandinha para cantar a música do bode, durante os comícios.

Vamos agora para São Paulo. Cacareco, apesar de ser nome masculino, foi uma rinoceronte fêmea do Zoológico do Rio de Janeiro, emprestada ao de São Paulo, que nas eleições municipais de outubro de 1959 da cidade de São Paulo, recebeu cerca de 100 mil votos. Como os votos eram feitos com cédulas de papel e os eleitores escreviam o nome de seu candidato de preferência, o povo foi lá e sapecou na cédula o nome Cacareco. Teve música também.

A música Cacareco (carnaval de 60) que você pode ouvir no link https://www.youtube.com/watch?v=PNNlH_VYKhk

Marcha de Francisco Neto e José Roy

“Ca-ca-ca-careco Cacareco

cacareco é o maior

Ca-ca-ca-careco Cacareco que ninguém tem dó.

Eu encontrei o cacareco tomando chope com salsicha e rabanada.

Mas lá no bloco da vitória ele gritava: aqui gelada, aqui gelada.”

E no Rio de Janeiro. Enquanto isso no Rio, em 1988, na eleição para prefeito, um chimpanzé do zoológico municipal chamado Tião, recebeu uma impressionante quantidade de votos, estimada em mais de 400 mil votos e foi o terceiro mais votado naquele sufrágio.

São três épocas diferentes, três candidatos diferentes, mas o mesmo protesto. Votar num animal irracional em lugar dos racionais. Fica essa reflexão para as próximas eleições.

Recife, 04/09/18

Carlos Alfredo

Carlos Alfredo Melo
Enviado por Carlos Alfredo Melo em 10/09/2018
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