Quem levou o doce de dona Janice?

Quem foi que roubou o doce da dona Janice?

Dona Janice era uma senhora, com mais ou menos sessenta e poucos anos. Guardava, num quarto bem escondido de sua casa, um pote de doce. Diziam que era mel, que nunca envelhecia. Outros diziam ser um doce de leite que já estava azedo há tempos! Ninguém sabia. Sabiam que era um doce, o doce de dona Janice. Um belo dia, um escarcéu aconteceu no meio daquela cidade. Um vilarejo, na verdade. E foi bagunça pra tudo que é lado, ninguém sabia o que estava acontecendo. Pareciam loucos, pareciam bêbados. Dona Janice chegou em sua casa, no meio daquela baderna, entrou correndo, trancou a porta e quando chegou dentro do quarto: Onde está o doce de dona Janice? Alguém pegou. Quem pegou? Eu? Não. Você? Talvez. Não sei. No meio daquela baderna, era difícil escolher um suspeito só. Mas, roubaram o doce da dona Janice.

Dona Janice ficou desesperada! “Tanto tempo que eu guardo esse doce, tão escondido no meu quarto!” E agora ele se foi. Agora, alguém pegou. Onde está o doce de dona Janice?

Dona Janice, desesperada, sem saber o que fazer, ligou pra polícia, ligou pro guarda municipal, ligou pro povo do vilarejo inteiro. Ninguém tinha visto o doce de dona Janice. Pobre coitada! Dona Janice, desesperada que só, saiu batendo de porta em porta. “Por favor! Você não viu um pote amarelo de doce? Mais ou menos desse tamanho aqui. Mais ou menos assim!” Ela fazia com as mãos, mostrava o tamanho do pote e ninguém havia visto o tal pote amarelo do doce da dona Janice.

E ela continuava, batendo de porta em porta, de porta em porta, de porta em porta e ninguém achava o tal doce da dona Janice. Era uma bagunça! Uma confusão que havia acontecido. Poderia ser qualquer um! Dona Janice continuava a procurar e a medida que ela procurava, foi se tornando uma pessoa amarga, uma pessoa triste. Haviam levado algo que era muito precioso pra ela! Dona Janice procurava e ansiava encontrar o doce dela! Guardou por tantos anos naquele quartinho tão escondido! Como que foram entrar lá? Como que foram descobrir o doce? Como foram roubar logo o doce de dona Janice? Ela continuou procurando, e à medida que o tempo foi passando, dona Janice foi se desgastando, foi se amargurando. Até que dona Janice se cansou, se trancou dentro de casa e falou: Não saio mais daqui sem o meu doce! Não tenho o meu doce, pra que que eu vou sair lá fora, sabendo que meu doce foi embora? Dona Janice se trancou e quando saía na varanda, as pessoas não a reconheciam. O brilho que havia no rosto dela tinha se dissipado, os olhos estavam mortos. Ela tinha palavras amargas. Dona Janice era outra pessoa. Mas, também, levaram o doce dela. E procuraram, e procuraram e nada. Passaram-se anos! Dona Janice bem velhinha e fraca entregou-se a morte. Morreu de idade, diziam. Mas, poucos sabiam que dona Janice, ao perder o seu doce, foi se desgastando e foi morrendo aos poucos. Aonde foi parar o doce de dona Janice?! O mais importante: Quem levou o doce de dona Janice?

Depois de morta, descobriram. O doce de dona Janice não foi levado por uma pessoa, o doce de dona Janice não foi levado por algum qualquer que estava no meio daquela bagunça. Havia um pouquinho do doce de dona Janice em cada casa, havia um pouquinho do doce em cada pessoa. Havia um pouquinho do doce em cada caminho que dona Janice passou. As pessoas arrancaram, aos poucos, o doce de dona Janice, e ela nem percebeu. Dona Janice achava que alguém havia entrado no quarto e arrancado todo o pote lá de dentro. Mas, foram tirando aos poucos. Quem roubou o doce de dona Janice? Não foi uma pessoa, foram várias. Não foi em um momento, foi durante toda uma vida.

Amanda K Abreu
Enviado por Amanda K Abreu em 12/09/2018
Código do texto: T6446459
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.